segunda-feira, maio 15, 2006
O último ensaio
O FATAL é um momento de revelação importante para um grupo tão recente como o nosso. Temos todos a consciência disso. Tenho tentado incutir-lhes a necessidade de verem os outros espectáculos, de estarem presentes, e tudo isso sei, esbarra numa vida extraordinariamente complexa em termos de carga horária. Só quem conhece o curso de enfermagem da Gulbenkian sabe do que falo. Há pouco, antes de começarmos o ensaio, já estavam em posição, apaguei a luz e tentei criar um ambiente propício à interiorização e intimidade. A certa altura dou por mim a dizer-lhes algo que ainda agora me parece tão verdadeiro que rende significado em mim: Não deixa de ser paradoxal e mágico que a mesma vida que nos propicia situações terríveis onde nos questionamos sobre a nossa humanidade também nos permita este prazer de oito pessoas estarem unidas para contarem uma história. E depois centena e meia de outras pessoas irão juntar-se a nós. Para comprovarem que o Alfredo e a Alice existem. Ou a Júlia e a Matilde. As duas vizinhas, Eugénia e Deolinda por onde respira um bairro, quase que vemos as luzes dos prédios apagarem-se e acenderem-se através delas.
Eu, agnóstico, descrente de todas as religiões de todos os deuses do mundo, deixo-me sucumbir diante deste encanto mágico da revelação de Um diante do Outro.
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