segunda-feira, maio 22, 2006

O pântano, segundo Costa

Está no intervalo o Prós e Contras e já sabemos tudo. É da nossa ignorância saber tudo. Manuel Maria Carrilho e Emidio Rangel de um lado e Pacheco Pereira e Ricardo Costa de outro. Ricardo Costa tem uma tese, a de que Carrilho ainda não percebeu porque perdeu as eleições. Carrilho tem uma tese, a de que percebeu muito bem porque perdeu as eleições. Escreveu um livro para denunciar um conjunto de factos que o levaram a perder as eleições. A conversa é suja, tem de ser. Costa diz que as agências de comunicação trabalham à vez com uns e outros. Luis Paixão Martins vendeu-nos Sócrates e Cavaco, por exemplo. Costa quis dizer com isto que as agências não fazem política, fazem campanhas e de pólos opostos. Portanto, se ora vendem os bons e os maus, não podem ser más nem boas. Segundo Costa, as agências estão assim acima da bondade e da maldade de todas as coisas. A seu lado, Pacheco Pereira diz que o importante é que Carrilho não prova nada do que diz sobre a conjugação de interesses do poder económico e político. É verdade. Fala de uma conversa que teve com um director de uma agência e não prova nada. Aliás, neste momento em que escrevo, Pacheco Pereira prova duas coisas. Que a capa do livro de Manuel Maria Carrilho é a sua face embora não seja a face de Lisboa. E que ele nunca admitiria que um livro seu tivesse a sua cara. E que por isso ele foi muito penalizado e diz também que o livro é muito assim. Não prova, comprova. E é improvável aliás que Pacheco esteja a ser muito inteligente. A prova disso é que Fátima Campos Ferreira não o compreende. Ora isso diz tudo sobre a capacidade de argumentação de Pacheco Pereira. Eu acho até que deveria haver um indíce Fátima Campos Ferreira para testar a inteligibilidade das coisas que se dizem. Mas o que mais me aterrorriza é o Costa. Costa está de acordo com Carrilho, só que está contra ele porque Carrilho está também contra Costa. Mas Costa assume os mesmos problemas da argumentação de Carrilho. Como Carrilho, só que ao contrário. Costa assume que Carrilho perdeu as eleições por, mesmo tendo notariedade, não ser popular. Costa vai até mais longe, confidencia que nas conversas que teve com o Emidio, na Comporta, reconhecia muito dos maleficios do jornalismo politico sobre Carrilho. Só que Carrilho, segundo Costa, faz parte do pântano e citou o exemplo de um documento com entrevistas rasuradas, emendadas, truncadas feito por Carrilho, enquanto ministro. Por isso, ele não tem o direito de acusar ninguém. Eis o pântano, segundo Costa. O mau jornalismo pode exercer-se - e há uma questão verdadeiramente assassina que ninguém discute, muito menos Costa, que é a forma como a existência de um mau jornalismo desce o custo da instrumentalização política das agências de comunicação - desde que tenha por alvos figuras sem autoridade nenhuma para existirem fora do pantâno. É claro que Costa não percebe uma coisa fundamental: o seu argumento é totalitário. Não é possível existir fora do pantâno, segundo Costa. Não li o livro. Nem o vou ler tão cedo. Mas ainda não vi ninguém a dizer que era falso o seu conteúdo, excepto um determinado Cunha Vaz, que tem todo o direito de o fazer enquanto visado. Rangel toca na pedra de toque do que entende fundamental: 70% do trabalho que sai dos jornais vem das agências. Como a conversa ficou inteligente, Pacheco decidiu mostrar o seu Q.I. e vituperou até o próprio formato do Prós e Contra. Ora essa, Pacheco Pereira!, ripostou Fátima Campos Ferreira. O índice Ora Essa!, de Fátima Campos Ferreira, dá ainda mais cor à apresentadora. É um momento especial. Pacheco e Costa divergem. Ou seja, começa-se, quase no fim a falar do que deveria ter sido falado desde o inicio. E a partir desse momento começa-se a formar uma evidência: que o que se discutiu antes fez com que não nos tivessemos confrontados com o essencial. E que à medida que o essencial se aproxima, damo-nos conta de que o não reconhecimento do contributo do livro de Carrilho para esse debate foi um dos momentos decisivos para que esse debate tenha sido tão retardado durante o programa. Essa é uma evidência terrivel.

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