sexta-feira, setembro 01, 2006

Paz Violenta já retomou a sua vida normal com a recuperação dos posts que se tinham perdido. Os comentários é que se perderam definitivamente. Novos textos neste fim de semana. De qualquer forma, sobre o não-intervencionismo, e seguindo a sugestão da Zazie, recomendo a leitura deste blogue. Os tempos estão dificeis mesmo. É preciso começar por limpar os campos, as matas, os pinhais. A linguagem. A guerra da linguagem tem hoje uma importância crucial. É por isso necessário fazer-lhe frente. Criar evidências comuns, realidades partilháveis. Acreditar na bondade da razão. Não é possível levarmos para a frente esta aventura comum senão confiarmos que seremos capazes de conviver uns com os outros com principio comuns para situações idênticas. As relações entre as pessoas são simétricas e complementares. Esse é um dos principios básicos da comunicação, toda a gente o sabe, não precisa de ter conhecimentos na pragmática comunicacional. Há que romper com os padrões de comportamentos que tendem para a supressão do outro.

12 comentários:

Carlos disse...

Belas palavras. A prática quotidiana, infelizmente, e de um modo quase generalizado, é outra coisa.

Carlos disse...

Mas, para que não fique no ar a ideia de um pessimismo total, devo acrescentar que, na minha opinião, ainda há pequenos focos de resistência. Há pessoas que, no dia a dia, romperam com "os padrões de comportamentos que tendem para a supressão do outro".

cbs disse...

Os comportamentos humanos, creio que tendem sempre para o domínio do outro, ou plo menos para assegurar de alguma forma a sobrevivencia, por vezes até deixando-se dominar, mas numa aceitação instrumental.
Pelo menos foi o que apreendi da Antropologia política; o simples facto de classificar o outro, a própria denominação "outro" é uma reacção de defesa-medo.
Por vezes a tentativa de domínio do outro podem chegar ao que dizes, suprimir o outro, o que é também contraditório, porque eliminando o outro perdes o domínio sobre ele.

Mas isto pra dizer que não me parece possivel alterar a matriz original de medo e sobrevivencia.

Possivel será sim aceitar as diferenças e a sua resolução, com regras equitativas que nos permitam sentir livres mas seguros, sem a loucura violenta.
Penso ser essa a finalidade que a civilização tenta sempre, mas a civilização é verniz fino :)

abraço

cbs disse...

Li agora o Schultz: "explained why he thinks "fascism" is an inappropriate word for the Bush Administration to use"

concordo.
o fenómeno politico islâmico, em particular o iraniano não é um fascismo.
Mas é um totalitarismo político-religioso; o fascismo era também um totalitarismo ideológico, daí a confusão bushiana.
E o discurso da administração americana também é tendencialmente totalitário (como acontece sempre em tempo de guerra).

Aquilo que os militares definem como a "conquista de corpos e almas" exprime bem a essencia do totalitarismo, penso eu.
O fanatismo será o expoente máximo.

zazie disse...

A questão não é essa e o Shultz salientou o principal na segunda razão invocada:

"I do not believe the war in Iraq has furthered our battle against radical Islamism"

Pois não! e é isto que era bom de se ver!

JPN disse...

CBS, tu sabes bem que as coisas não são assim tão simples: os comportamentos humanos são contraditórios, têm uma complexidade que é importante não simplificar. Onde tu vês uma tendência para o dominio do outro, poderei eu ver legitimamente uma tendência para a integração do outro. Para o tornar semelhante, igual. Dizes que a nomeação do outro é uma reacção de defesa-medo. Mas também, esse momento da constituição do outro como não o mesmo, ode ser visto como um esforço em direcção ao entendimento do que ele é. Não mistures as coisas CBS, não estamos aqui a falar de genética, não estamos a falar de comportamento humano, nem tão pouco de natureza humana: estamos a falar de POLITICA. E a política é o que neste contexto pode explicar a diferença de atitude de dois individuos, grupos, comunidades, países, civilizações, em relação ao medo que têm do outro: em tende para a supressão, o outro tende para a integração. Um exerce uma acção militar, o outro uma acção ou iniciativa cultural. Ora a politica é redutivel á vontade dos povos, dos homens, da iniciativa humana. Pode ser modificada. Como escreve carlos azevedo e bem " há pessoas que, no dia a dia, romperam com "os padrões de comportamentos que tendem para a supressão do outro". Façamos o que queremos fazer. Temos todo o direito,Mas quanso estendemos a mão para a mão do outro ou para o seu pescoço estamos a fazer uma escolha. Essa escolha é política e cultural. Não há como fugir a isto: a paleta dos comportamentos humanos permite esperar dos homens e das mulheres gestos de paz ou de guerra. abç

zazie disse...

numa coisa o JPN tem razão- a política é uma coisa; as expelicações genéticas, outra.

Para o caso não importa. A política intervencionista tem um obejectivo interesseiro mas é sustentada por uma propaganda revolucionária em que se defende precisamente a necessidade de "integrar" o "outro" nos bons valores da democracia.

Foi assim que também se justificou a invasão do Iraque- era necessário libertá-los de uma ditadura e trazê-los para o bom caminho.

E isto é a política dos neo-cons que vêm do trotskismo e da ideia da revolução mundial.

Os conservadores não são intervencionistas e defendem precisamente o oposto- quanto menos contactos melhor.Apenas os necessários e todos os diplomáticos.

Mas, as consequências das últimas intervenções fizerem acordar o terrorismo e é perante ele que agora a propaganda se vira.

Com duas tónicas- o relatório minoritário da guerra preventiva (agora atómica, anteriormente das adm)o relatório minoritário do perigo do terrorismo (invertendo-lhe a ordem lógica com que sucedeu na Europa) e a classificação do islão no Eixo do Mal- como o tal "fascismo" fanático que é o inimigo principal.

Creio que é em relação a este último item- o do medo dos ataques terroristas e o desprezo por hábitos de outros povos que se tende a unificar esse pensamento que acaba por dar cobertura a todas as guerras.

Posso estar enganada e a ser cínica mas não acredito que seja por pena deles e para o bem deles que agora, passados tantos séculos, lhes deu para ficarem comovidos com a barbárie e a falta de humanidade que ainda existe no mundo.

É medo. É forma de anteciparem a defesa pessoal,é facilidade de pensamento ao englobar tanta diferença num denominador comum- jacobino- " o fanatismo".

E é idioteira por se esquecerem que a nossa civilização é uma boa trampa decadente; tem um projecto de apagamento cultural e civlizacional desde o momento em que substitui Deus pelo deus do dinheiro e precisa deles por dependência do petróleo.

zazie disse...

Para mim existe um exemplo máximo do paradóxo da dita superioridade do Ocidente sobre o dito fanatismo islâmico- Abu Grahib.

Há-de ficar como a grande vergonha da nossa História.

Poderia incluir Guantanamo mas em Abu Grahib existiu tudo- toda a prepotência bárbara perfeitamente ocidental- fruto da nossa culturazinha de violência- americana até à medula- como disse na altura o VPV.

Abu Grahib é o espelho que todos os intervencionistas e defensores dos ditos "valores ocidentais" deviam colocar à frente antes de falarem.

zazie disse...

E digo mais- só mesmo por efeito de uma longa tradição de hegemonia do "Ocidente" sobre o "Oriente" é que nem pensamos no que seria se Abu Grahib tivesse sido obra deles sobre nós.

zazie disse...

paradoxo sem acento e outras gralhas

zazie disse...

explicações ainda foi gralha maior. Agora já é tarde ehhe

zazie disse...

só para deixar aquia crónica do VPV

que confirma o que eu tinha dito. O VPV é deturpado por quem o cita.
......
Por que razão o Ocidente durante 30 anos viveu com relativa tranquilidade e segurança sob a ameaça da URSS e da China e vive hoje com a permanente apreensão de um ataque terrorista? A pergunta é pertinente. E a resposta está na natureza do terrorismo. O "11 de Setembro", para dar o exemplo mais notório, foi uma operação artesanal, executada por um grupo heterogéneo de indivíduos, quase impossível de identificar e prender a tempo. Pior: nenhum Estado era obviamente responsável. Mesmo o Afeganistão se limitara a servir de "base" a Bin Laden e aos campos de treino do Al-Qaeda e, sendo essa "base" eminentemente removível, liquidar os taliban não resolvia, como não resolveu, o problema. A URSS, a China (e até Cuba) nunca tentaram atacar a América, porque sabiam de ciência certa o que viria a seguir. A Al-Qaeda contava com a sua intrínseca invulnerabilidade.
Nenhuma espécie de represálias de tipo convencional, militar ou outro, pode em definitivo acabar com o terrorismo muçulmano. Mas sem dúvida que represálias de tipo convencional podem dissuadir qualquer Estado de o fortalecer com armas de destruição maciça. Nem o Iraque de Saddam, nem a Síria, nem agora o Irão correriam o risco de um ataque drástico, pela conveniência táctica de ajudar a Al-Qaeda (ou uma seita semelhante). Para evitar uma catástrofe maior, o Ocidente não precisa de se imiscuir num mundo que não percebe e que, de resto, o odeia. Só precisa de tornar cristalino o que sucederá ao Estado ou Estados que se envolverem directa ou indirectamente em terrorismo biológico, químico ou nuclear.
A ideia de que o Ocidente deve promover a democracia ou a justiça é uma ideia colonial. Quando fala na "defesa da civilização" Bush repete à sua maneira os sermões da esquerda sobre o desespero e a pobreza das massas muçulmanas. Parece que "o homem branco" voltou a carregar o seu "fardo" e se prepara outra vez para reformar a terra. Felizmente, o "homem branco" já não quer reformar a terra, quer petróleo. Interessa ao islão (ou parte dele) vender petróleo e comprar tecnologia, interessa ao Ocidente comprar petróleo e vender tecnologia: e é bom que as coisas fiquem por aqui. Isto implica evidentemente inverter a política de Bush e Blair: da ingerência para a não-ingerência e de uma total tolerância interna (como em Inglaterra) para duras regras de cidadania. A confusão alimenta o terrorismo, a clareza contribui para o isolar e conter.