terça-feira, outubro 31, 2006

O efeito Zita Seabra na interrupção voluntária da gravidez

Achei comovente a presença de Zita Seabra no Prós e Contras. Tudo. O casaco branco, que por acaso estava ali à mão, a maneira como respondeu a Fátima Campos Ferreira, naquela que foi a primeira - a primeira ?! - pergunta do programa. Comovedora também a inflexão no discurso. Sou daqueles que defendem o direito a cada um mudar de opinião. Defenderei até à morte o direito de Zita a mudar de opinião. Mas devia haver excepções. Zita Seabra é uma deles. Chega a ser indecoroso ela ter de contra-argumentar consigo próprio e toda a gente perceber que Zita, a comunista, leva ao tapete Zita, a social-democrata.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tencionava votar no sim, tal como o fiz no referendo de há uns anos. Mas já não tenho a certeza se o farei.
Sinto que andava mal informada (mea culpa!).
O debate foi muito esclarecedor: o que está em causa não é a discriminalização de um acto feito em situação desesperada (sei do que estou a falar, sou mulher, abortei voluntáriamente há 20 anos e ainda não sei se fiz a opção certa!)mas sim a legalização.

-Boa tarde, queria marcar uma intervenção.
- Qual foi a data do último periodo? Dia 17 às 15h pode ser?

É isto que queremos??
Eu NÃO.

Sinceramente não encontro nenhuma falta de coerência no discurso e na postura da Zita Seabra. É uma mulher, que se calhar também já abortou, e que sabe do que está a falar.

JPN disse...

Mary, eu não disse que ela não era coerente. Nem sei o que isso é e muito menos se isso é uma virtude. Creio que não. Se mudar de opinião não pudesse ser algo positivo não haveria meio mundo a querer convencer outro meio de que a razoabilidade da vida está num outro determinado sitio. Apenas quis dizer que um dos momentos do debate foi quando citaram a Zita Seabra comunista contra a Zita Seabra social democrata. Eu, principalmente depois de ler o texto que ela escreveu, creio que no DN, sobre a experiência traumática que tinha tido na ex-URSS, tinha alguma expectativa sobre a sua participação no debate. Fiquei tão frustrado quanto tu terás ficado esclarecida. Ainda bem. Mas para mim, tive a sensação, decerto injusta no teu ponto de vista, de que a Zita comunista lutava por ideias enquanto que a Zita social democrata cumpre enquadramentos. Aquela sua insistência na pilula do dia seguinte é indecorosamente um insulto à inteligência. Aquela sua insistência na Clinica de Badajoz, é de um incongruência que não se percebe até porque a dita clinica se se instalar na Av. da Liberdade deixa de ser a Clinica de Badajoz e aí torna-se igual a todas as empresas que operam num espaço transnacional. Que efeito simbólico queria ela obter com essa ideia? Com a legalização serão as de Badajoz, como as de Coimbra, de Lisboa, de Setubal, de Aveiro que vão poder operar á luz do dia. Qual o problema? Não tendo referido nada de concreto contra o trabalho dessa clinica, acho isto nada congruente com a posição de um deputada que se insere num partido que defende a liberalização da economia. Atenção, estou a falar de congruência, não de coerência. Ainda: o tiraço retórico de Zita, a social democrata, era a de que não se podia fazer da prática do aborto uma prática anticoncepcional. É um tiraço, temos de o reconhecer. Mas é um tiraço que, em proveito da sua retórica, despreza duas coisas: a ideia de que todos, os partidários da despenalização e os partidários da não despenalização, têm no aborto uma prática dura, violenta, que deixa sequelas - tanto no homem como na mulher, ainda hoje sofro com um aborto que fiz à vinte anos - e que por isso nunca será uma alternativa anticoncepcional, e por fim a ideia de que a prática do aborto não tem aumentado nos países em que a sua realização é mais liberalizada.

Anónimo disse...

E a diferença entre discriminalização e legalização??
Para mim esse é o ponto.
Sim a uma. Não a outra.
Não será concerteza utilizado como meio anticoncepcional por muitas mulheres. Sobretudo depois de uma primeira gravidez indesejada.
Mas não deixará de fomentar um "Não há-de ser nada mas, se fôr, depois vê-se...".
Eu gostava de acreditar que não será assim!