sábado, novembro 11, 2006

Antes de adormecer

Jantámos fora. Mais uma vez encontrou um amigo, o André. Na esplanada, arrumamos os clubes todos por ordem. A tarefa prolonga-se pela noite e por volta da meia noite ele encosta-se ao pai. Está na hora de subirmos à Vila. Visto-lhe o pijama, lava os dentes.
-Pai, deita-se comigo um bocadinho?
Claro que sim, respondo. Há muito tempo que este é um dos meus melhores momentos. Ficamos ali, próximos, geralmente ele agarra-me na mão, dizemos algumas larachas. Eu abro as hostilidades:
- Sabes que muitas vezes quando tu estás em casa da mãe, eu me lembro de ti?
Retribui:
- Eu também.- Deixa cair o silêncio, nestas alturas as conversas são assim, esparsas, entrecortadas com grandes intervalos temporais - E sabe o que é que eu me lembro do pai?
- Não.
- As brincadeiras que nós fazíamos.
- Quais brincadeiras?
- Quando o pai fazia caretas para eu me rir.
- Lembras-te disso?
- Lembro. O pai não lembra?
- Lembro-me. Claro que me lembro.
Sábio:
-Agora vamos dormir."

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