O amante é um fingidor

Quando se finge o amor, corre-se o risco de chegar a senti-lo, escreve Vila-Matas, citando Pascal " É quase impossivel fingir que se ama sem se transformar logo em amante". Ouço esta frase de mil e uma formas, sendo que a mais contundente é: " é impossível amar-se sem se transformar logo em fingimento". Eu sei. É um fingimento que resulta da natureza poderosa, catártica, irresístivel da errupção do dramático e do ficcional nas nossas vidas. Tal como escrevia Pessoa sobre a natureza fingidora (e não dissimulada) do poeta. Não sendo a mais contundente, a minha deriva preferida desta ideia de Pascal é a de que é quase impossível fingirmos (no sentido da assumpção da ficção) sem nos transformarmos logo em outra coisa. A ficção tira os pecados do mundo, como o ouvi uma vez a um poeta.