segunda-feira, novembro 27, 2006

A tertúlia da Cláudia *

Alba em memória de Sophia
. .
é quando a luz safira e cor de rosa
a humedecer as nuvens, matinal,
alastra pelas praias, vagarosa,
e nas dunas rendilha o seu metal,
.
é quando algas e mar, corais, espuma
e sombras transparentes vêm na brisa,
é quando em nós a lira desarrumar
a angústia e o silêncio e a imprecisa
.
densidade do tempo e se combina
do ouvido à alma na medida certa
uma geometria cristalina,
é quando um crespo deus pagão desperta
.
a dar o alento próprio à maresia
e canta ao encontrar-se com sophia
. .
_________________________________________________ * há já bastante tempo que a Cláudia com frequência mandava poemas aos amigos. É isso mesmo. Catrapiscava-os nos lugares mais inimagináveis e insistia em abrir-nos os dias com poesia. Este, "Alba em memória de Sophia", é de Vasco Graça Moura, e enviou-o no fim de Outubro, pouco tempo antes da viagem à Patagónia. Alguns deles chegaram a ser publicados aqui, no Respirar. Ela própria, no modo como a lembramos, é um belíssimo poema.

5 comentários:

Anónimo disse...

Espero que te tenhas despedido da vida com o mesmo sorriso que te vi nos lábios da última vez que nos encontrámos.
Inês

Anónimo disse...

...um doce poema para ti, claudia que faz amanhã um ano nos pediste para lermos poemas no teu jantar de aniversário

Anónimo disse...

Um dia a Claudia escreveu-me este poema e disse-me: "Este poema e teu, faz-lhe o que quiseres". E eu nunca fiz nada, mas nunca esqueci. Estava a uns dias de vir morar para aqui e ao ler o poema, lembro-me bem, senti-me uma pessoa muito especial, a quem a minha amiga queria dar uma cidade inteira, e chorei, porque uma parte de mim estava triste por partir. Era assim que a Claudia nos fazia sentir, pessoas especiais. Quando vejo a Claudia e a Ze, e estou constantemente a ve-las, elas estao sempre a rir. Isso consola-me muito. Saber que as minhas amigas estarao para sempre a rir dentro de mim. E muito dificil acreditar no que aconteceu e aceitar o presente. Aceitar que ontem e hoje nunca mais serao iguais, mais todas as palavras que ficaram por dizer.

A Claudia fazia anos amanha e nao quero deixar de celebrar convosco este momento, o de saber que ela faz parte da minha vida, tal como a Ze e o Cesar, e que nada mudara este facto, por muito que o tempo passe e que chovam trovoes nas nossas almas. Por isso, queria oferecer-vos este poema de volta, talvez a unica forma que encontro neste momento de dizer em voz alta "A Claudia e a Ze, para sempre, do coracao ate as margens."

um enorme abraco,
susana cascais

Susuki, porque n vivo apenas do poema matinal dos outros, este é para ti,
escrevi-o em Julho assim num cruzamento entre o teu calvino e a tua
história linda de amor. Que haja muitas assim e outros benditos calvinos
tb. Claro que a história é bem mais bonita do que o poema, mas como agora
ele é teu faz-lhe o q quiseres. Já tinha querido enviar antes, mas tinha
perdido o ficheiro :))

Beijo

Cl



A cidade

Queria dar à minha amiga uma cidade

Dizia-lhe assim

Esta cidade é tua

Podes percorrê-la por dentro

Do teu sangue muito jovem

Pondo-a à deriva na mesma corrente

Em que te move a tua força

Podes levar o teu amor contigo

É para levares mesmo o teu amor

Porque esta é a tua cidade

Esta cidade é tua



Se depois quiseres passear nela

Encontrarás uma fonte

De onde brotam

Múltiplas formas de sombras

E inclinações suaves

Para ti e o teu amor

Se recostarem e beberem

Na magnificência dos cheiros e dos sons

Que preenchem todos os sítios

Por dentro da cidade



Existe nela

Um teatro onde

O poeta cristalino proclama

Que feliz que sou porque amo e sou amado

Sem mudar nem ser mudado

Alguns choram quando ele diz em inglês

Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove
O, no! it is an ever-fixed mark,
That looks on a tempest and is never shaken;
It is the star of every wandering bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.


E o poeta vai rir convosco

Do segredo que nunca contou

Sobre o seu amor cálido

Indiferente a verões e a invernos

E a outras alterações inversas aos sentidos



Encontrarás copos para brindar

Ao amor do poeta velado pela cortina

Um amor assim simples

A estrela que tenta tapar

Com mãos de adolescente

Um sorriso muito branco



Queria dar à minha amiga uma cidade

Com tapetes de flores

Canalizações infinitas

E combinações de luz solar

E de picos de chuva

Em cada esquina e praça

Sobre cada ponte e cada torre



Se lhe der uma cidade

Ela vai escolher

A música dela

Para pôr à volta da fonte

Na praça, a rasar os tornozelos

Com as almas e os pássaros que quiser

Do coração até às margens

crabbyblue disse...

"Hoje, às 17 horas, realiza-se uma missa na Igreja de N. Sra. dos Navegantes, no Passeio do Levante, Bloco 4.81.01, Parque das Nações), mandada rezar por amigos de Cláudia Magalhães – que hoje faria 34 anos – e em memória das quatro vítimas."

http://www.record.pt/noticia.asp?id=728051&idCanal=127

Anónimo disse...

Soube apenas agora mesmo da notícia desse terrível acidente no Chile e sinto o coração apertado pela partida súbita da Cláudia, do César e da Zé. E faz-me pensar que é urgente mantermos contacto com as pessoas de que gostamos, mas que muitas vezes as circunstâncias assim não o proporcionam. Daqui de Macau lhes guardo boas recordações do tempo da FCSH.
Quim, obrigada pelo espaço de mensagens. Um grande, grande abraço de saudades e até breve!