sexta-feira, dezembro 22, 2006
O tempo nas salas de espera
Uma das coisas de que mais me lembro da minha infância são as secas monumentais que passávamos a pretexto de tudo e nada. Então aquele "fiquem aqui quietinhos que já volto", da minha mãe, que nos deixava assim fechados no Ami 8, era fatítico. Ao fim de algum tempo qualquer vulto ao longe se parecia com a nossa mãe, o que nos aumentava a ansiedade.
- É a mãe! - dizia o João.
- É nada a mãe! - respondia eu.
Não era, invariavelmente. Anos mais tarde vim a encontrar um sucedâneo dessas secas nas repartições públicas, nos guichets dos hospitais ou dos centros de saúde, nas imensas salas de espera de qualquer coisa que um cidadão adulto precisava de ter experienciado, isto claro antes do advento do online na administração pública.
Esta vivência sacrificial da espera, do tempo interminável, foi-se diluindo. Há um pequeno paralelo em sexta-feiras como esta, depois de uma noitada seguida de insónia, em que o tempo custa verdadeiramente a passar, mas até nisso, tudo mudou. À medida que o tempo passa a impaciência diminui, este prazer da clausura cresce, e o que era acondicionamento torna-se libertação.
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1 comentário:
tenho essa exacta sensação e lembro-me hoje com fequência dela, interrogando-me se a minha mãe me deixaria assim taaanto tempo à espera ou se a dimensão dessa seca seria apenas a dimensão gigantesca de tudo na infância (o meu mundo encolheu à medida que cresci).
feliz natal homem na cidade e que em 2007 continues a oferecer-nos as tuas palavra.
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