quarta-feira, janeiro 24, 2007

Caso de Torres Novas - fim de citação

Releio todos os posts que escrevi sobre o caso da Esmeralda para saber se era verdadeira a minha sensação de que aquilo que escrevi não era explicitamente uma defesa ou um ataque de alguns dos intervenientes deste caso. A minha reacção começou com um editorial de Nuno Pacheco, que achei miserável, e que despoletou em mim um sentimento de indignação tão forte - principalmente porque contrastante com a ideia que tenho daquele editorialista do Público - que quase se diria que eu tinha incorporado a sensação de injustiçado que antevia em Baltazar Nunes (mais tarde clarifiquei que a minha empatia com ele tinha também a ver com outro aspecto, que será objecto de um próximo post, desde já anunciado, a aventura da decisão). Mas aquilo que tematizou de uma forma vincada a minha persistência na discussão sobre este caso, foi um trabalho de intoxicação informativa que vi ser feito no espaço público, envolvendo todos. Não eram só os media. Era de tal modo grave que cada pessoa se tornou uma câmara de eco de um determinado enredo e argumento. Àquela pergunta, então e este caso, agora?, que fazemos para nos instalarmos na conversa, a resposta era automaticamente a mesma, falasse eu com quem falasse: " esse malandro nunca quis saber dela e agora que lhe cheirou dinheiro é que apareceu", ou então " aquela juíza é que devia estar presa, condenar um pai que está ali por amor". Foi por isso com algum conforto que vi a minha tribo reconstituir-se a partir da disponibilização do acordão, que mesmo sendo uma visão parcialíssima, nos permite aceder a uma factualidade que estranhamente já estava disponível - o que permite dizer-se com propriedade que isso era matéria publicada - mas que não actuava na construção do argumento emocional que nos vinculou com a história. E a minha tribo é assim a daqueles que dispensam a intoxicação informativa e que têm como importante não só o pensamento, também o controlo sobre os dispositivos pelos quais produzimos pensamento. Tudo isso, o que cada uma das tribos pensa, é já muito claro, e eu tento assim encerrar a minha participação nesta discussão. Não sem antes dizer algo, que só escrevi uma vez, penso que na caixa de comentários da Natureza do Mal, e que é sobre a prisão de Luís Matos Gomes. Mesmo sentindo que houve aplicação da justiça, ou seja, independentemente da intencionalidade, o casal premeditadamente lesou e provocou prejuízo no pai, parece-me injusta, demasiadamente pesada e ainda por cima, parece-me ser uma pena que só agrava a situação. Porque por mais que achemos condenável a atitude de Luis Matos Gomes, é óbvio que a maior pena é dirigida directamente à pequena Esmeralda. Nem o próprio Baltazar Nunes reconheceu algum conforto com essa prisão. Como dizia a M., e ela será sempre a minha especialista para esses casos, aqueles são os adultos daquela criança e devem estar com ela. Por isso, paradoxalmente, encontro no movimento do habeas corpus uma generosidade que tem de encontrar correspondência com aquilo que se irá passar com Luís Matos Gomes. Ele tem de ser libertado (da mesma forma que o pai e a mãe têm de poder ser integrados na relação com a criança). Nem Luís Matos Gomes, nem Adelina, nem Baltazar, nem Aidida são os super heróis da colecção de cromos de Esmeralda - e ela um dia crescerá porque terá de aprender a amá-los mesmo deixando alguns espaços em branco na caderneta - mas são os seus adultos. Da mesma forma que o bom povo de Cernache de Bonjardim, de Mação, da Sertã, a comunidade de especialistas, os fazedores de opinião, os com opinião feita, talvez não tenham sido a melhor comunidade de acolhimento para esta criança mas serão, muito provavelmente, a comunidade onde ela terá de viver. Fim de citação.

4 comentários:

Gasel disse...

mt bem :)

crabbyblue disse...

entretanto, por outras paragens...
http://www.cbc.ca/canada/saskatchewan/story/2007/01/29/custody.html

crabbyblue disse...

oops: artigo

Anónimo disse...

Excelente intervenção. Permitir-me-á sugerir no meu blog um link para o seu texto que muito louvo. Saudações- Saúde.