terça-feira, março 13, 2007
Cova da Moura: polícia de proximidade
Ao entrarmos no bairro uma carrinha da polícia estratégicamente controlada com três ou quatro agentes policiais. Estão em pose descontraída. Os vendedores de fruta à frente também. "-Tá-se, bem!", parecem dizer. Ainda tenho na memória o aparato policial do último confronto entre a polícia e alguns moradores. Falamos disso e alguém chama a atenção para isso. Diz que os incidentes que ocorrem quase nunca resultam de conflitos entre a polícia e assaltantes ou traficantes, mas sim da polícia com a população, especialmente os mais jovens. Numa comunidade muito orgulhosa da sua cultura, dos seus valores, das suas práticas e que é estigmatizada, a presença da polícia será tida sempre como uma ingerência. A polícia parece que se dá conta disso e embora mantenha na carrinha o fardamento anti-motim, tem uma atitude integradora e não deixa de fazer parte deste caso verdadeirmente invulgar que é a Cova da Moura. Vão trabalhar com os mais pequenos ao ATL, ao Jardim de Infância e à Creche, familiarizando as crianças e os jovens com uma relação com a polícia. E é curioso ver polícias disfarçados, com as caras pintadas, a brincarem com os jogos das crianças. Fez-me lembrar o tempo em que dinamizei no Bairro da Boavista, uma actividade a que chamámos Televisão Independente da Boavista. Uma das nossas reportagens foi à Esquadra da Polícia. O ambiente começou por ser muito tenso. Algumas daquelas crianças tinham a memória dos seus familiares mais próximos terem sido levados para a esquadra e ali terem sido, alegadamente, maltratados. Um dos momentos mais curiosos foi a conversa sobre os vasos de plantas e flores que o chefe da esquadra tinha no seu gabinete. Queriam saber tudo. Porque as plantara. Quantas vezes as regava. Aquele pequeno quintal em cima de uma mesa de madeira tinha-o humanizado. É possível e necessário desconstruir o ódio.
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