quinta-feira, abril 19, 2007
Spoiled people
Jorge Sampaio nas terras sem fim da erradicação da tuberculose, apercebendo-se de que nada o preparou para isto. Fazemos parte de um mundo protegido. Criamos à nossa volta uma área de exclusão. Há alguns aspectos perversos nisso: essa área de exclusão é, numa primeira fase exercida pelo nossos polícias doces. Primeiro enviamos os nossos acordos de cooperação, de parcerias, os nossos negócios, nos vários domínios, económico, cultural, saúde, educação e turismo. E vendemos armas, claro. Depois, enviamos as ONGs, os excedentes de alimentação, medicamentos, a roupa usada, dinheiro, ao mesmo tempo que incluimos no pack a nossa irreprensível competência para a gestão desses recursos. Se estes procedimentos falharem, avança a cavalaria. A violência. Não interessa o dispositivo retórico que consolidará esse avanço. Aprendemos a dizer as coisas mais desagradáveis do modo mais suave. Outro aspecto perverso: os mundos desprotegidos acorrem ao nosso território. O príncipio, para além de ser da ordem da sobrevivência - o que nós, como spoiled people não somos muito capazes de perceber - tem uma justa equivalência política: o principio da universalidade e da internacionalização primeiro, da globalização depois, que serviu para expandirmos os nossos negócios e os nossos feitos esventrando o território de onde agora saiem os êxodos, serve também na razão inversa, para lhes abrirem os nossos territórios. Outro aspecto perverso: os nossos fantásticos mundos abertos fecham-se. Não já a ideia de resort com que povoámos o distante mas a de condomínio fechado. Com seguranças fardados, ainda não armados, câmaras de vigilância e outros mecanismos do controlo panóptico. Este fechamento dos nossos territórios é unilateral. Podemos sair, só não se pode entrar. Podemos sair ainda. As nossas cidades, as nossas fronteiras não são como os castelos medievais donde só se podia sair pela calada da noite, não fosse o inimigo sitiante surpreender-nos.
Voltamos ao princípio do post: fazemos parte de um mundo protegido. É disso que se deu conta Sampaio. É com orgulho que o vejo nestas andanças.
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6 comentários:
Orgulho?!
Sim, Cristina. É com orgulho que o vejo a ser o enviado da ONU para a erradicação da tuberculose. Como também tenho orgulho quando vejo o Guterres na ACNUR. E até, mas com doses cavalares de preconceito, com o Barroso. E tantos outros, nas artes, nas ciências, no desporto, até no futebol.
Compreendo, mas estranhei. E ainda mais depois da tua resposta, justamente porque, dito assim, esse orgulho me leva aos caminhos do patriotismo, e não gosto. Mas esse é o meu problema. Talvez porque a política feita de determinada forma (por alguns políticos) me diz muito pouco, embora não seja o caso do JSampaio. Eu diria reconhecimento. Sabes, às vezes parece-me que está tudo às avessas e não consigo "ler" em alguns dos procedimentos passados, de alguns dos Srs. que nomeias, esta mesma "disponibilidade para os outros" que agora gostam de exibir. Só isso. E sem qualquer preconceito te digo que não tenho qualquer orgulho/reconhecimento no Barroso, embora não seja daqueles que acham que as virtudes estão todas à esquerda. :)
PS: Obrigada por partilhares as "bolinhas de sabão" da tua amiga.
eu também diria antes reconhecimento. visto por esse prisma, o do patriotismo, acho que tens razão e também não gosto. além disso releio o post e não gosto dele. que grande salganhada. O que eu queria falar era dos mundos protegidos onde habitamos. O resto é tráfico, contrabando. Onde é que eu ando com a cabeça?! Deve ser da primavera, vai-se a ver! :)
OK!OK! Se é da Primavera...
Mas ainda queria dizer-te outra coisa: é que sendo a tua escrita tão cosmopolita não percebi, mesmo,este "orgulho nacional".
nem eu! :)
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