terça-feira, junho 19, 2007

Silêncio da manhã

Os amantes são os primeiros a acordar naquela rua. Há movimentos anteriores, o bater da faca do homem do talho, o leiteiro, o padeiro que vem fornecer a pastelaria em frente. Há muita vida, como se costuma dizer: a montante e a juzante da vida dos sentidos, mas mesmo assim arrisco, os amantes são os primeiros a despertar. Deslizam pela calçada do passeio. São leves, com milhares de anos, leves. Ele vai para dizer, ela pressente-lhe a constatação. Ela atalha-o:
- Cala-te! - Ele fica surpreendido. Havia barulho em volta. O dono do café. Um cliente que tinha entrado. As máquinas. - Deixa nascer o silêncio da manhã. Os dias consertam-se e estragam-se aqui.

1 comentário:

Anónimo disse...

é mais ou menos assim:

"Ser homem é estar fixo, é pesar, pesar sobre alguma coisa. O amor consegue a desaparição dessa gravidade. O centro de gravidade da pessoa transferiu-se para a pessoa amada...

VIVER FORA DE SI, POR ESTAR MAIS ALÉM DE SI MESMO. VIVER DISPOSTO AO VOO, PRONTO PARA PARTIR. É O FUTURO INIMAGINÁVEL QUE O AMOR INSINUA A QUEM O SENTE."

mais uma vez deixo aqui a Maria Zambrano.