domingo, setembro 09, 2007
Baltazar
Às vezes, quando ou me apetece mudar de vida e não tenho dinheiro para isso, ou quando muito simplesmente não é bem mudar de vida, é mais, mudar um bocado de azimute, vou fazer a barba à barbearia Campos no Chiado. Baltazar costuma estar à porta, a fumar um cigarro. Geralmente partilho a preferência do Guarda-Rios e fico-me pela primeira cadeira. O barbeiro tem 80 anos mas a mão firme, o que nestas coisas da navalha na pele, é motivo de júbilo. Olho para os lados e não vejo o Baltazar. Pergunto por ele. Dizem-me que morreu. Diz-mo o meu barbeiro de oitenta anos. Conta que ele se despediu e foi trabalhar para uma barbearia ao pé de casa, onde só esteve quinze dias. O tabaco foi-lhe fatal. Eu gostava dele, daquele seu ar meio antipático, numa antipatia defensiva, fechado consigo mesmo. Uma vez dispensei o estado meio sonâmbulo com que aprecio o fazer da barba e conversei mais longamente com ele. Vivia sozinho. Tinha cortado relações com toda a família. Inclusivé com a filha. Era simpático, irónico, cáustico. Gostava da vida, da sua pacatez, de ficar no seu canto a apreciar as coisas. Quando chego a casa vou até ao computador. Eu sabia que tinha há muito tirado umas fotos da barbearia. E lá estava ele, o Baltazar, barbeiro até ao fim dos seus dias.
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1 comentário:
Tenho tantas saudades de ir a um barbeiro em Portugal.... aqui na Bélgica parecem todos sei lá o quê!
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