terça-feira, janeiro 15, 2008

E agora?

De um bolso de um casaco sai-me um papel amarrotado, com meia dúzia de palavras: "história do actor que se apaixonou pela rapariga da bilheteira da empresa de camionetas. Ele dá-lhe um bilhete. Ela dá-lhe um desenho. E agora?". Enquanto, com aquela cara de criança apaixonada me contava a história eu assentara-a, brincando com ele, dizendo-lhe, agora vou escrevê-la eu. Tudo se tinha passado num repente, num ai e assim se terá esbroado esta história, começada num guichet de uma empresa de camionetas. Soube-me a enredo de Woody Allen, na altura. As personagens tinham a humanidade e a interioridade que Allen tão bem soube resgatar do seu mestre, Bergman. Os olhares. Imagino assim este actor e esta rapariga do guichet. Como é possível despoletarmos desta maneira os nossos sonhos? Uma rapariga fechada num pequeno cubículo, apenas aberto por um vidro transparente com uns oríficios para deixar passar o som e o dinheiro, de repente pôe aquele actor a sonhar, a ver mundos para além do vísivel. Ela dá-lhe um bilhete que lhe permite a ele ir embora, sair dali, ele deixa-lhe um ingresso para o seu pequeno mundo da quarta parede, um pequeno grande guichet onde também cabem uma infinidade de planos, de lugares, de circunstâncias. E depois, quando vai vê-lo, ela traz-lhe um pequeno desenho. No universo da troca ela dá-lhe um pequeno desenho.

1 comentário:

Alba disse...

Que ideia tão bonita para um argumento! E quando escreves?

Bom ano!