Roberto deixou a água escorrer-lhe pelo corpo nu.
Nunca saberia explicar a sensação de que tinha sido esse efeito de pequena cascata que lhe trouxera uma estranha revelação: ele era um ser estruturalmente monogâmico. Sem dúvida que sofria de complexos vários. Como o de peter pan. A questão edipiana também nunca a resolvera a fundo. O que atrasara todas as outras descobertas. Muitas delas tardias. Atrasara-se por exemplo a descobrir a diferença entre a sensação de liberdade e a vivência da própria liberdade. Uma vez alguém lhe disse, tenho pena por não conseguires ser só meu como eu sou só tua. E Roberto crescera logo aí. Tinha passado a vida a defender o contrário e de repente percebera, ou apercebera-se, só o ser que conquistou a sua liberdade se pode oferecer em dádiva. A esta altura o estado de Roberto era o da livre associação de ideias. Agora soube: era homem de uma só mulher. Pelo seu corpo escorriam fios de água quente. Ele sentia-se tranquilo, feliz, pela evidência da sua monogamia.
1 comentário:
Só em liberdade se pode Amar :)
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