Eduardo Graça fala dos seus doze últimos anos. Sete anos enquanto gestor de um organismo público, cinco anos enquanto ex-gestor de um organismo público (ou seja, a responder a processos). E mesmo assim, dois ou três posts abaixo evoca com confiança a primeira maioria absoluta socialista. Gabo-lhe a formação democrática, a perseverança no espírito republicano. Eu, talvez por ter tomado contacto com a bondade democrática já em pleno apogeu revolucionário, não tenho esta resistência de espírito. A própria figuração da liderança Durão-Portas-Félix provoca-me tamanha náusea intelectual que sou incapaz de dizer alguma coisa prestável. Se tiver que soletrar esses nomes pareço um grunho, uma caricatura fedorenta dos felinos. Nunca odiei tanto assim e isso, confesso-o em prejuízo da razão. Lembro-me que desde esse momento até hoje se abriu dentro de mim um fosso de pensamento, um buraco negro povoado por um imenso nojo que afectou toda a minha crença na democracia, no sistema político que nos governa, na bondade da vida que levamos. Sou, na melhor expressão da resposta que Unamuno lançou contra o general Milan Astray em que lhe chamou "um inválido de guerra", um inválido da democracia, que tem pelo menos o bom senso de recolher-se na sua dor. Quando o povo deu a primeira maioria absoluta eleitoral ao Partido Socialista, essa pequena alegria não me chegou ao conforto. Pensei, terá de haver muito mais do que uma revolução eleitoral e política, terá de haver uma revolução ética - o que resulta numa contradição de termos - para que as consequências negativas da utilização política abusiva, embora enquadrada legalmente, do Estado contra o Estado, pudessem ajudar-me a levantar-me todos os dias para o trabalho com a alegria de respirar o mesmo ar.
4 comentários:
Compreendo. Cada um vive (e sobrevive) à sua maneira ...
É pena censurares os comentários que te enviam.
nem todos. este por exemplo passou.
Julgava-te mais corajoso. Quem tem medo, compra um cão...
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