Costumo sair de casa com uma mochila às costas. Lá dentro quinquilharia. Carregador do computador portátil, do telemóvel, telemóvel antigo, carregador do telemóvel antigo, livros, um caderno moleskine, uma bolsa com todo o tipo de adaptadores para o cartão do telemóvel e máquina fotográfica. Kit de internet wireless. Por vezes, no principio da semana, levo também o meu almoço (esta semana, para além da sopa de couves, fiz também um arroz de cabalhau com couves (simulacro de grelos). É, pode-se dizê-lo, estou apaixonado pelas couves do eu quintal). Os livros, os últimos são, para além do moleskine onde projecto e tiro apontamentos sobre O Personagem-Brinquedo, o livro do Luís Carmelo sobre a Blogosfera, A Vida Conversável do Agostinho da Silva e o nunca mais terminado, Paris nunca se acaba, de Enrique Vila-Matas. Esta espécie de homem portátil em que me converti é também a metáfora quase perfeita de um homem-zapping. E zapping virtual. Não pego naqueles livros nunca. E o moleskine é apenas quando preparo uma aula. Por vezes, antes de entrar para o metro, compro o Público. Mas quase sempre pego num dos gratuitos. Ponho os auscultadores, ligo o mp3 do telemóvel e lá vou eu, de estação em estação, atravessando a linha verde de ponta a ponta. Comecei a andar de metro há uns cinco meses terminando assim com uma fobia a que tacticamente me habituara. O jornal, o mp3 foram recursos para vencer a estranheza de repentinamente me ver num ambiente que me é desconfortável. Hoje deixei a mochila à porta de casa. Comecei a tirar o que não iria precisar. O portátil. Eu ainda não estou pronto para escrever. Tirando o portátil tudo me pareceu dispensável. Escolhi um livro. Agostinho da Silva. Vida Conversável. É um livro estimável, estimado, que faz de nós pessoas estimativas. Não, não era o que eu queria. Queria acabar de vez com o Paris nunca se acaba. E é assim, menos portátil, menos zapping, que entro no país da chuva que chegou à minha cidade.
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