"Nada disto teria grande importância não fosse o caso servir de pretexto para o pessoal do costume falar da coisa como se estivéssemos em Cuba ou na Coreia do Norte. Não estamos. Qualquer trabalhador por conta de outrem, docente universitário ou jornalista, empregado de livraria ou contabilista, funcionário público ou quadro de empresa, não pode ignorar o feedback das suas irreverências face à imagem do empregador."
Sobre o blogue de um professor universitário, e através da Terceira Noite, leio isto de Eduardo Pita, no blogue Da Literatura. Não posso estar mais de acordo com a última frase. Trabalho num instituto público que se dedica a muitas áreas de interesse pessoal como a cultura, a animação cultural, o teatro, e sempre que escrevo sobre estas áreas elevo o meu super-ego à posição de vigilância máxima para que, no exercício natural da minha liberdade de expressão consubstanciada na edição deste blogue, não escreva aqui nada que de alguma forma possa conflituar com o interesse da Instituição que sirvo. Ou se o escrevo, transporto-o para situações imaginárias, apago a marcas do real. Igual cuidado tenho no que digo ou expresso em outros contextos públicos. Porque, como diz e muito bem Eduardo Pita, " não posso ignorar o feedback das minhas irreverências ( e acrescentaria, ou reverências, que até no dobrar da espinal medula deve haver esse sentido de responsabilidade) face à imagem do empregador."
Não posso é também discordar mais do sentido que ele dá a essa auto-consciência do impacto social da nossa comunicação. Primeiro do que tudo, e embora concordando que não estejamos de facto na Coreia do Norte ou em Cuba (onde é o Estado a intervir), estamos ainda (porrâ, nunca mais passa depressa o tempo que passa!) num país que ainda não se curou desta hábito salazarento de, como dizia Sttau Monteiro, "cada um de nós ter uma predisposição para fazer de polícia sinaleiro". E isso elevado ou exponenciado aos nossos grupos, grupúsculos, células, tem estas demonstrações de intolerância.
Passei os olhos pelo blogue - que, confesso não me entusiasmou muito - e sublinho que desde logo detectei uma cláusula no protocolo de leitura que deveria condicionar toda actividade de compreensão do conteúdo do mesmo: aquele espaço assume a sua não semelhança com a realidade. É totalmente abusiva portanto a atitude do grupúsculo onde se insere este professor. E ela própria, enquanto desprestigiante da Instituição em causa, também não deve ignorar o feedback das suas atitudes. É claro que para o professor, a situação foi resolvida, porque ele acatou a pressão dos seus pares.
E para nós? Sendo uma coisa pública, não teremos o direito não só de protestar, como de colocar na barra do tribunal este grupo de pessoas que, embora eivados dos melhores sentimentos de defesa da Instituição para que trabalhavam, deram dela a pior imagem pública, contaminando-a com as suas discutibilísimas ideias do que deve ser o espaço de liberdade expressiva de cada um, independentemente de quem lhe paga o ordenado?
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