quarta-feira, maio 07, 2008

Backup : "O que nos ilumina!"

[Ao procurar o ponto em que tinha deixado de fazer backup do respirar vou até uma manhã de janeiro de 2007, onde encontro um texto onde continuo a bater na sempre mesmíssima tecla do sentido. ]
"O que eu queria dizer - e nem sei se verdadeiramente o desejava confessar - é que já não sei o sentido da vida mas, quando escrevo, quando me sento a escrever, quando preparo o ambiente para saborear este acto de escrita, penso que sou um gajo cheio de sorte por ainda me reconhecer neste gesto meio oficinal de procurar as imagens das palavras e de as descrever, sabendo que o que expresso, é muito menor do que o poema que neste momento me comove. O mais engraçado é que toda esta conversa começou na minha cabeça porque ontem, quando Sinisterra disse que " há um princípio coercivo (fábula, história, enredo) que é impossível dissociar do trabalho dramatúrgico, porque, entre outras razões, o homem está biologicamente programado para procurar o sentido" eu o contraditei logo ali, no meu pensamento. Talvez o que nos distinga não é o estarmos biologicamente programados para procurar o sentido. Lá em baixo, no pátio, o cão da vila fá-lo muito melhor do que eu. O que me distingue, é que biologicamente eu estou programado para me dissociar do sentido, para o perder. É isso que me distingue de todos os seres vivos que conheço. Só na minha efabulação da vida é que eu consigo perceber que um animal perdeu o sentido da sua existência. O animismo que o sustenta é um movimento e o movimento é, em todos os seres vivos menos nos homens e nas mulheres, sentido. A (im) possibilidade do humano, não é a procura do sentido. É a possibilidade de o perdermos. É isso que nos ilumina.

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