sábado, maio 31, 2008

A malta de esquerda

"A ideia é juntar o que está disperso, juntar pessoas de esquerda sem alimentar ilusões", afirmou Alegre, concluindo: "É um acto novo que pode trazer confiança e é um sinal de que há outras coisas, outros mundos, que há esquerda."
Tenho um grave problema político: ao mesmo tempo que já não acredito na esquerda, ou seja, ao mesmo tempo que já não acredito que a malta de esquerda, enquanto malta de esquerda, tenha respostas para as questões mais importantes no mundo de hoje, cada vez dou mais importância política à direita. Ou melhor, reconheço que a direita tem cada vez uma maior importância política. Aliás, confesso: é por dar cada vez mais importância política à direita que já não acredito na esquerda e que a acho a caminho da sua irrelevância doutrinária. O único pensamento decente de esquerda que nos poderia ajudar a recomeçar a pensar na realidade de hoje é o de Karl Marx e esse está tão soterrado nas suas próprias contradições que seria um rotundo fracasso relê-lo. O meu mundo é por isso um mundo desiquilibrado, em desiquilíbrio, o que de certo modo recomenda que alguém com um pingo de sensatez deixe imediatamente de ler este post. O que me parece é que a direita, e estou a falar daquela direita civilizada que domina nos negócios, na política e na sacristia, tem a dureza ideológica do granito: ela é essencialmente um discurso do mando, da subordinação, e do domínio. Seja no campo politico, religioso ou social. As ideias são um acessório. Um acessório importante mas não o fundamental. Ninguém de direita deixa de fazer um negócio por causa de um princípio. Aliás a direita está habituada a esse jogo de cintura com o seu caldo ideológico. Quando nós dizemos que políticos de esquerda estão a governar à direita, o que geralmente queremos dizer é que eles estão a governar sem outra ideia que não seja a da manutenção do poder. O que nós queremos dizer é que as ideias deles também se tornaram acessório. A tradição reformista, de insatisfação, da esquerda estará hoje naqueles que percebem que afirmar a viabilidade da esquerda é uma atitude que só favorece o PPN, Partido Português dos Negócios, o grande partido nacional onde a direita portuguesa dá cartas. A esquerda morreu (1). Porque a existência hoje da esquerda só serve para dotar de alguma consistência ideológica uma direita que já perdeu todo o seu aparato ideológico. A esquerda hoje é um espectáculo de folclore (e como eu gosto do folclore de esquerda, vai ser bom ouvir os Terrakota e os Rádio Macau aqui neste velho teatro) trespassado por este desconchavo e patetice ideológica "de querer juntar as pessoas de esquerda para lhes dizer que não há ilusões, ao mesmo tempo que lhes trazem confiança porque há outros mundos, outras coisas, esquerda". Temos de enterrar rapidamente esta ideia de uma esquerda que não sonha, que não quer iludir-se e que mesmo não sonhando nem se iludindo refaz a confiança apenas por estar junta.
Matemos (est') a esquerda com as mesmas mãos com que ela nos mata a esperança, o sonho, a fantasia.

(1) A direita também morreu, de certo modo. Só que ela nunca se interessou verdadeiramente pela ideologia. Tenho um grande amigo que gosta de me provocar tecendo loas a Salazar. Aliás, ele pensa que me provoca. Mas não consegue. Porque a primeira vez que falámos sobre política ele sossegou-me, disse-me, sabes, acho que a política é a mais nobre actividade humana. O que para mim o tornou logo num gajo de esquerda. É por isso que ele passa a vida a inscrever-se e a desinscrever-se de todos os partidos de direita que surgem. No começo o verbo, esta ilusão da política. Depois quando eles começam a abrir sucursais do PPN (Partido Português dos Negócios) manda cartas, rasga os cartões de filiado. Ele não sabe, e é bom que continue a não saber, mas não é de direita.

3 comentários:

Eduardo Graça disse...

QUANDO CONSEGUIRES CLASSIFICAR O SPOT SEGUINTE COMO DE DIREITA OU DE ESQUERDA TERÁS O TEU PROBLEMA RESOLVIDO: Passionata Spot: David LaChapelle e Isabeli Fontana

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
C disse...

Dear Sir/ Madam,

Please delete all comments signed with the name "vitório rosário cardoso" because are not published by the original author but by a "clone" that only aims to damage my reputation.
This case is already followed by the police authorities.

Thank you for your attention,
Vitório R. Cardoso

Exmo(a). Senhor(a),

Solicito que sejam apagados todos os comentários assinados com o nome "vitório rosário cardoso" uma vez que foram publicados por um "clone", que tem como intenção de denegrir e difamar.
Este caso já está a ser seguido pelas autoridades policiais competentes.

Atenciosamente,
Vitório R. Cardoso