segunda-feira, maio 05, 2008

A outra dimensão

Não sou de viver no passado. O passado a mim diz-me muito pouco. Gostava muito que estivessem cá alguns que se foram - e eu sem saber para onde - mas não o tempo que com eles também foi. Lugares, pessoas, tudo. Não sei de tempos, de casas. Nem mesmo de amores, essas substâncias que muitas vezes tem uma alquimia mais difícil, principalmente quando temos de reconhecer que ali ou acolá fomos uns pequenos safardotes egoístas. Este desapego pelo passado é também despreendimento em relação à memória. Em calhando lembro-me e até, de muitas coisas. Não sou também um futurista. Quase nunca faço planos. Espero passar o mais possível de tempo com quem amo e nesta vida, gosto do pó, da poeira, da ferrugem, do muco, mas o único plano que tenho por certo é morrer e mesmo esse, nunca o agendarei. A vida é uma vertigem e isso sabe-me bem aos sentidos. Com estes predicados dir-se-ía que vivo no presente. Nada de mais enganador. Se não fosse o meu corpo a lembrar-me, através de uma dor ou de um prazer, até me esqueceria de que sou matéria tangível. Vivo, desde pequeno, num outro mundo. Antes, por comodidade, chamava-lhe o mundo da lua. O mundo dos sonhos. Agora até esses pequenos descritores de alma me parecem peso a mais para esta estranha leveza com que acordo.

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