domingo, julho 27, 2008

da expressão da violência aos pobres simbólicos

[Domenico Zampieri]
Há algo que faz pensar : a relação de inversa porporcionalidade entre a capacidade de uma determinada comunidade, grupo, etnia, ser capaz de se reproduzir simbolicamente entre as outras e o uso da violência. Não sei percebê-la, a olho nu, senão pelos seus indícios. Por exemplo: nota-se, por um relance às fotos, aos títulos, aos textos, que a comunidade romni (vulgo cigana) está, simbolicamente, muito menos protegida do que as comunidades africanas a viverem em Portugal. E que estas estarão incomensuravelmente menos protegidas que a restante comunidade (a qual não sei como designar).
Sendo a expressão assente, através da figuração, na capacidade de representação, ela é também um distanciamento da violência sobre a realidade física. Pode até ser, no seu enunciado, mais violenta que a violência exercida na matéria contra matéria em que se transforma a nossa miséria quotidiana. Mas é sobre uma realidade figurativa, que, tal como os nossos heróis de desenhos animados, pode morrer e ressuscitar a cada momento e que - seja através do livro, da imagem, do filme, entre outras formas de expressão - utiliza materiais reconhecidos e classificados na indústria do entretenimento, do espectáculo e da arte.
São os pobres-simbólicos que, no nosso mercado da troca simbólica, usam materiais pouco nobres : a pele, as vísceras, o sangue, os seus próprios bens (casas, carros). Pouco nobres porque pouco sensíveis à condição de reprodutibilidade que marca a majoração dos objectos neste mercado simbólico. Na história do despoletar da violência na Quinta da Fonte impressiona o modo como aquele homem que começou a discutir com a mulher foi maltratar o seu próprio carro. O seu carro foi destruído uma única vez. Houvesse alguém que tivesse pegado na câmara do registo da festa de aniversário e filmado a cena e essa filmagem conduziria o seu autor ao esterlato das histórias quotidianas. Ele não sabia porque nós não o ouviremos nunca assim. Mas ele nesse momento não era ele. Era a estória de si mesmo. Tal como eu, neste momento, não sou eu, mas a estória que diante do vosso olhar construo.

1 comentário:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Nem chego a ler tudo , com absoluto repúdio pelo que têm feito aos ciganos e nomeadamente no Montijo ... Não somos tolos e distinguimos o verdadeiro do encenado ... Tem sido racismo puro ....
JOSÈ RIBEIRO MARTO