terça-feira, julho 15, 2008

Aos vindouros

Não digas que és livre.

Passeia livremente pela avenida,
cumprimenta livremente os teus amigos,
saboreia até a liberdade de um encontro, de um cruzar de olhos, de uma palavra mais meiga no
fim da tarde.
Ou anda pela rua como se fosses um príncipe.
E entra no hipermercado e compra um frasquinho de liberdade em ampolas dietéticas. Em
granulado integral, daqueles que vêem em pacotes de plástico. Ou em peças separadas para
montar.
Faz, com a liberdade, tudo o que quiseres.
Só, na altura de dizeres, sou livre, olha o recibo de ordenado, o contrato da tua escravidão-promissoriada, atenta nas letras pequeninas com que te enfiam a república pelo cu acima e
recolhe-te num silêncio inexpressivo.
Se todos os dias assim fizeres,
pelo menos, não comprometerás, mais uma vez, as gerações vindouras.

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