Quando ouço por um lado a direita a tentar perceber o que se passa nos bairros da violência através das grelhas raciais, e por outro lado a esquerda a ripostar contra esta visão da direita, invectivando o preconceito étnico dos comentadores de direita, fico com a sensação de que uns e outros estão a contribuir para a dramatização da questão étnica na explicação dos dramas sociais que afligem a nossa vida contemporânea. Não é por a esquerda se calar que perde a vez do discurso. E como os problemas sociais que estão na base da violência não se resolvem tão facilmente quanto percebemos que os ciganos são uns malandros ou que a malandragem que lhe associamos não é senão espuma, não tarda nada, quando os tiros começarem a passar de bairro em bairro dos arrabaldes cinco até aos arrabaldes um e daí até ao centro da cidade, do país, da nossa vida, aparece um le pen de pijama a subir na política e a refastelar-se com a ineficácia dos discursos políticos da esquerda e da direita. É já a seguir...
2 comentários:
Ora aí está uma visão lúcida. Ninguém fala disso e é algo tão claro. Daria uma bela peça o desmantelamento selvático da sociedade em que vivemos (digo-o porque aqui se é de teatro). Um ruir sem esperança nem crença.
Deixo-lhe um poema meu, que fala disso.
SINÉDOQUE
País pequeno o meu, grande somente
nas falsas pombas brancas que ministros
retiram do chapéu, miragens fátuas
a passar nos ecrãs à hora de comer,
enquanto o general e o seu exército
aguardam junto a Ceuta
que a Europa morra. Um dia voltaremos
a sacudir o pó dos Albuquerques,
ou cantaremos Cid, ó rei de névoa.
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