É com este título que JPT escreve um post onde se insurge contra a nova legislação que o Partido Socialista introduziu em relação ao voto dos portugueses emigrados. Sou, como a maioria sabe, daqueles que têm o voto ao pé de casa. Tenho votado até com crescente tédio. Não tinha por isso nenhuma ideia em relação a isso. Acontece que a minha recente viagem ao Brasil me abriu os olhos para duas realidades, a da lusofonia e a da emigração, para as quais tinha uma sobranceira indiferença. Para além disso como há muitos dos nossos emigrantes que estão em países que os acolhem com crescente carinho e esforço de integração - como constatei em França, por exemplo - lá ía, inconscientemente, pensando, deixa-os estar, um dia só somos portugueses os que cá estamos e como isto tem muito de fado-castigo, deixa-os estar, serão mais felizes assim. Só que esta retórica meio chunga com que me embaraço as mais das vezes não é o melhor modo de observar as coisas face a um problema que é real, que afecta o ânimo, a identidade de muitos portugueses que estão muito longe do país.
Se há problemas com os votos da emigração feitos por correspondência, esses problemas têm de ser resolvidos, minorados ou assumidos. Ou tornam possível outras formas de voto aos portugueses que estão mais afastados das embaixadas e consulados, ou têm que assumir que haverá distorções no voto e fazerem o trabalho de casa no sentido de as identificarem e neutralizarem. Agitar os casos de centenas de votos que voaram do Brasil para Espanha, ou outras irregularidades do género, parece-me uma argumentação tão infantil face ao prejuízo que causa a uma comunidade de cerca de cinco milhões de pessoas. Sem falar da incongruência de um Partido que anda a propalar o salto tecnológico, e quando toda a nossa vida já é pré-digital, ficar atrapalhado com as dificuldades de segurança que estes novos meios criam. Os aviões onde o indescrítivel José Lello viajou para articular esta pérola legislativa também têm inconfessáveis problemas de segurança e não é por isso que ele terá deixado de os utilizar. Já não digo que seja necessário que as pessoas que dirigiram o processo da criação desta regulamentação pensem efectivamente nos problemas que causam e ouvissem as associações, os conselhos disto e daquilo que agrupam a diáspora. Em circunstâncias normais até o diria. Mas o nome de José Lello não é uma circunstância normal. Por isso rectifico: seria necessário que as pessoas que mandam José Lello encarregar-se destes assuntos pusessem à frente dos mesmos pessoas que dessem provas de que iriam tratar dos problemas das pessoas, não criando a suspeita de que estão apenas a tentar resolver o problema do PS não conseguir ganhar as eleições das comunidades desde 1999.
Não formulo aqui o desejo de que todas as pessoas que, mesmo assim, possam votar, ignorem o quadrado eleitoral do PS no círculo da emigração. Seria castigo que, no meu modo de pensar, e face ao espectro político nacional, se viraria contra os próprios eleitores. Mas que seria uma grande chapelada em personagens políticos como José Lello que houvesse uma crescente votação em branco, levando até à necessidade de revogação da lei, isso sim, seria.
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