terça-feira, outubro 14, 2008

A visita do senhor Simões

Pelo que vou lendo em blogues de mulheres, e falo principalmente de blogues de mulheres de alguma forma descomprometidas, encontro com alguma recorrência o explanar de alguma fantasia erótica com canalizadores. Dou algum relevo a esta ideia porque nunca seria capaz de o prever: na minha cabeça o canalizador seria um dos últimos seres assexuados na terra. Imagino-o gordo, num fato de macaco azul, talvez boné na cabeça, um cheiro característico, as mãos sujas daquela linhaça oleosa, que passa da chave inglesa para as mãos. Foi por isso que quando ela me disse que estava à espera do Sr. Simões, o canalizador, eu desliguei os radares caninos de macho em perigo. Até lhe pedi para fechar a porta da cozinha para eu poder ver, sem entraves, a discussão no Expresso da Meia Noite sobre o casamento entre casais do mesmo sexo. É claro que me irritou um bocadinho ter chegado atrasado. Mas eu não sou nem de bolores nem de rancores. Por isso, foi incómodo puro. Aquele Sr. Simões era novo demais para canalizador, pelo menos para canalizador da casa dela. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Tanto que não descansei enquanto não fui buscar um copo de água à cozinha. O que eu queria era abrir a porta, para mitrar a conversa toda. Antes o não tivesse feito. Já estavam a falar sobre a vida e a morte. Eu apanhei o ínicio da conversa e garanto a sua inocência. Ela disse, ainda bem, assim a vizinha debaixo já pode descansar em paz. E depois, dando-se conta do que dissera, ai, credo, deus lhe dê longa vida. E o Sr. Simões a pegar no tema, já sem inocência, a falar daquele programa que vira, a senhora acha mesmo que a morte é um descanso?, e a senhora a responder, e ele a retorquir, e ela a achegar, e de repente uma conversa completamente conexa, fluída, como se estivessem num campo de ténis, ora a bola vai para lá, ora vem para cá, e eu a perder o tino ao Expresso da Meia Noite, ao Ricardo Costa e ao Nicolau Santos, à Isabel Mayer Moreira, já só pensava que é um perigo isto, os canalizadores, os tipos entram por dentro das casas das pessoas, começam com falinhas mansas, avanços, nem quero imaginar o perigo em que ela estaria se eu nao estivesse aqui, no sofá da sala. Um homem faz sempre muita falta, é o que é!

2 comentários:

Doramar disse...

Ah ah ah ah! Gordinho e de boné... A tradição já não é o que era :)

@na disse...

ahahahahahaha!!!