A certa altura, andava eu na Rua da Graça, passei por uma oficina onde em torno de uma mesa comiam castanhas e bebiam alguma coisa. O quê?, perguntei-me. Vinho? Geropiga? De repente veio-me à cabeça a palavra água-pé. E o seu sabor, guardado desde tempos esquecidos. É curioso isto da memória. Um tipo julga que se esqueceu de tudo e de repente o corpo guarda, em forma de cheiros, de sabores, farrapos de tempo há muito perdidos. Água-pé. Na região saloia havia sempre. de repente o sabor inconfundível da água pé tornou-se uma obsessão. Percorri todas as mercearias. Nada. Na última, um palpite,
olhe, se alguém tiver é ali a tasca do jaime,
fui lá, o próprio jaime esclareceu-me,
isso acabou, a malta dos armazéns já não se arrisca com a asae, isso é proibido, é proibido? sabe porquê?, pergunto-lhe, ele diz que como já é mais velhote nisto por acaso até sabe,
olhe, isto já vem do salazar, uma lei de 40, como havia uma lei em que com menos de 10º não pagavam imposto, ele proibiu a água-pé, só que o pessoal metia-a em garrafas de palheto, pagava o imposto, e estava a andar, mas agora com a asae ninguém arrisca, se os tipos verificam que aquilo não tem dez graus e tem lá indicado os 11 do palheto, vai a carga toda para o galheiro e a multa não é suave, não.
E lá voltei, aguado mas com a lição sabida.
1 comentário:
Mestres em dar a volta a proibições sem sentido, é das coisas que mais gosto neste povo!
Abraço
~CC~
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