Vou confessar aqui pela segunda vez uma coisa: não gosto de José Sócrates. Não adianta explicar porquê, seria a minha idiossincrasia contra a dele. Admiro porém a sua capacidade e energia política. Mas não gosto dele. Por mais vitórias que dê aos socialistas, força com a qual tenho uma indisfarçável inclinação, acho que nunca vou conseguir gostar dele. Nisso é uma relação totalmente diferente da que tenho com o poeta, de quem gosto, mas que politicamente não me alegra porque faz parte de uma aristocracia republicana que muitas vezes distorce a convenção democrática que pleita. Isto para dizer, e dois posts seguidos sobre o assunto lançam-me, até a mim, suspeitas duas ou três coisas:
primeira, concordo com o que ouvi hoje na rádio a José Miguel Júdice, de que ao invés de estranharmos que os casos tenham sido resolvidos com relativa celeridade, deveríamos era exigir que isso fosse a prática da administração pública (que tem vindo em muito a simplificar os seus processos, cuja complexidade era, todos o sabemos, um convite a esquemas manhosos, alternativos, circundantes do tratamento administrativo regular);
segunda, é um facto que estes processos em vésperas de período eleitoral podem condicionar uma campanha. Tanto positiva como negativamente. Mesmo que José Sócrates possa agora lamentar o evidente prejuízo que este caso significa para a sua imagem política, se o seu envolvimento no caso for clara e factualmente desmentido, o que, dados os contornos do caso não parece dificil, é bem possível que ele ainda consiga tirar vantagens políticas desta situação, não só porque pode surgir como um vencedor, também porque anula o impacto politico negativo dos anteriores casos que o chamuscaram; terceira - e João Pedro Henriques apontou-o hoje no DN - esta polémica em torno de Sócrates não teria acontecido assim se o Governo, em período em que já não deveria decidir nada, não tivesse decidido coisas tão importantes como o licenciamento do Freeport e a alteração da Zona de Protecção Especial (mesmo que a correlação entre as duas coisas não seja directa, tal como esclareceu o antigo secretário de Estado, já que não é essa alteração, por ser à posteriori, que torna ilegal o licenciamento). E mesmo que, para além da responsabilidade política imediata do Governo da altura ( e não apenas de José Sócrates), haja aqui também uma responsabilidade do sistema político (como referiu também Júdice, já que não é admissível que um país fique parado durante o tempo todo em que embora já se saiba quem ganhou o governo não pode ser empossado e governar), a verdade é que não teria ficado mal ao primeiro-ministro e antigo ministro do ambiente ter-se dado ao trabalho de esclarecer definitivamente esse assunto;
quarta, tanto o pai do primo de Sócrates como o filho do tio do primeiro-ministro, e inclusivé o irmão da mãe do primeiro ministro, assim como o sobrinho da mãe de Sócrates, deveriam ter escolhido outra altura para o estrelato. O próprio filho do pai do primo de Sócrates deveria, através da sua empresa de marketing, a Neurónio Activo, mandar um fax para o tio de Sócrates, ou um email para a secretária deste, pedindo-lhe que ele contratasse a sua firma para a assessoria de imprensa. Não sei se teria resolvido alguma coisa mas pelo menos tinha-os mantido ocupados por algum tempo;
quinta, uma dúvida que temo ser ontológica, metafísica: o que é o segredo de justiça? E o que é que acontece aos investigadores e aos magistrados que têm um caso em segredo de justiça que é violado? E, questão que os jornalistas poderiam talvez responder por terem conhecimento de facto - mas cuja matéria nunca foi objecto de uma reportagem a sério - o que é que leva as pessoas a violarem o segredo de e justiça? E que pessoas são essas? Ganham alguma coisa com isso?
E por mim acabou-se esta novela.
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