quarta-feira, abril 22, 2009

A entrevista de Sócrates

Não me interpretem mal: eu não gosto de José Sócrates. Nunca gostei. É um direito pessoal que me assiste. Poderia dizer que era pela sua arrogância, pela sua demagogia, mas não estaria a ser verdadeiro. Enquanto cidadão da República Portuguesa já convivi com primeiro ministros como Cavaco Silva, Pinheiro de Azevedo, Durão Barroso, Santana Lopes, Mota Pinto, Sá Carneiro, Mário Soares, António Guterres, Maria de Lurdes Pintassilgo, Nobre Costa, Vasco Gonçalves, entre outros, e muitos destes eram mais arrogantes, mais demagogos e muito menos preparados que José Sócrates. O motivo é outro. Parafraseando uma frase do tempo da mãe da Isabela, é um homem demasiadamento bem parecido e eu gosto deles, os políticos, mais feios, charmosos mas feios. Não confundo este direito pessoal com a avaliação política sobre o seu trabalho como primeiro ministro. Subscrevo totalmente a ideia que creio ter ouvido a Francisco Van Zeller, de que se trata de um primeiro ministro de um nível político que nunca tinhamos tido em Portugal. Não estou a falar das políticas. Cingo-me ao político, ao animal político. Isto para dizer que não tendo visto da entrevista a Sócrates senão a última pergunta e uma manta de retalhos que andei a coleccionar nos sessenta minutos seguintes fazendo zapping pelos vários canais, para além de ter escutado toda a sorte de comentadores que me apareceram pela frente, fiquei com uma impressão muito positiva da prestação política do primeiro ministro.
O que não é, como já disse, uma avaliação sobre as políticas deste governo. Creio que é inegável o grande trabalho de consolidação das contas públicas que foi feito até ao momento em que a crise, como uma bolha, rebentou, creio que a aposta no investimento na construção de novas barragens e da requalificação do parque escolar são medidas importantes, sou sensível ao argumento de que as pequenas e médias empresas não estão a ser devidamente acompanhadas e de que as políticas sociais para apoio aos desempregados têm de ser mais enérgicas e se tenho algumas dúvidas sobre a inoportunidade dos grandes investimentos reconheço que a conjuntura internacional deve poder levar a um reajustamento dos seus timmings de execução. Por outro lado, abstendo-me em relação à saúde cuja realidade escapa a qualquer entendimento que eu pudesse ter, acho uma nulidade a política cultural e na educação foram cometidos erros desnecessários que enquinaram a possível bondade das reformas políticas.