domingo, julho 26, 2009

Sorte grande

Costumo pensar que tenho sorte em ter nascido, que tenho sorte em ter nascido onde nasci, como nasci, quando nasci e com quem nasci*. Dizia-o engrossando a voz poética, como quem canta e se felicita pelo dom da vida que lhe foi concedido. O que eu não sabia é que ter nascido, no ano em que nasci, não foi apenas uma sorte. Foi a sorte grande. Com a mortalidade infantil a quase 80% (gráfico tirado de o Abrupto) os meus pais ganharam uma espécie de lotaria. Agora compreendo melhor o desespero da minha mãe por eu ter vindo todo machado de amarelo, com suspeita de icterícia.
*Tenho como única excepção aqueles momentos da minha infância e adolescência em que sonhava que era John Fitzgerald Onassis Brazil Kennedy, traição que nunca confessei a meus pais, sonho esse que me permitia imaginar-me a homem mais poderoso do mundo que, com a sua Brigada Caimão, podia intervir em qualquer ponto do globo, tanto nos diferentes conflitos da actualidade do momento como na minha disputa platónica com o Inácio em relação à filha da D. Mimi.

2 comentários:

Cristina disse...

E ainda nascem muitos. Hoje há os biliblankets (sp) ver foto e texto da Dooce aqui.

Os pais ficavam em pânico, a solução era simples e eficaz, nos tempos em que a ciência ainda não tinha complicado muita coisa: 15 minutos por dia ao sol. Só com a fralda, junto a janela aberta..

Mas é bom ver que te safaste :)

Alba disse...

Calma, que a mortalidade infantil não se lê em percentagem, mas por mil nascidos.