segunda-feira, janeiro 04, 2010

Tempo de ficar em casa

Há muito que não me lembrava de um começo de ano como este, tão soterrado na própria água. São as lágrimas dos aflitos? No último dia de férias improvisadas resultantes da conjugação da tolerância de ponto, olho a varanda, lá ao fim o rio nem se distingue do céu carregado, e penso em como também é saboroso ficar em casa. Dormir até tarde, sonhar. Improvisar um brunch com o cabaz de natal andaluz que nos ofereceram. Ficar a escrever um pouco. O resto. Às vezes dá-me ganas de sem abrigo, imagino a ir-me, pelo mundo fora, sem eira nem beira, sem casa. Há duas coisas que persistem nessa imagem de vagabundagem: há sempre um rio na cidade onde estou e é sempre verão. Estes dias em que o dilúvio é um espectáculo do outro lado da janela são de louvarinhação da casa, do recolhimento, do encontro com a parte de dentro de nós.

4 comentários:

rt disse...

Porquê ficar em casa? Se fosse assim, na Escócia e na Holanda nunca saiam de casa.

rt disse...

A AUTÊNTICA ESTAÇÃO

É Verão. Vou pela estrada de sintra
por sinal pouco misteriosa à luz do dia
ao volante de um carro que não é um chevrolet
e nesse ponto apenas se perdeu a profecia
Não há luar nem sou um pálido poeta
que finja fingir a sua mais profunda emoção
Chove uma chuva que me molha os olhos
e me leva a sentir as saudades do inverno. Talvez lá faça sol
e eu sinta aflitivas saudades do verão:
uma estação na outra é a autêntica estação.

Ruy Belo

JPN disse...

O poema do Ruy Belo é oportuno. Como pontual também é a chuva que nos lembra do prazer de ficarmos entre 4 paredes.

Cristina Gomes da Silva disse...

"Há duas coisas que persistem nessa imagem de vagabundagem: há sempre um rio na cidade onde estou e é sempre verão"
Estou contigo nesta ideia,pena que seja só ideia. O Verão será sempre a minha estação preferida :-) Abraço e até breve