sexta-feira, fevereiro 04, 2011
Poesia & Contrabando
Quanto menos tempo tenho para as palavras, mais me transformo em poesia. Não ponho as palavras em escadeado, como antes, antes de tudo, antes de mim, eu imaginava o poema. Eu pensava que era assim que se distinguia o verso, a própria poesia. Tantas ilusões. Agora, que é tarde, o mundo está preso a uma guerra que eu não sei anunciar - sim, eu seria um verdadeiro poeta se conseguisse entrar por dentro destas vidas mesmificadas e, por um instante fosse capaz de avisar-vos da guerra que aí vem - eu sei que o poema não verseja, nem diz piropos às moças na vereda dos caminhos. Tenho alguns amigos meus que são poetas, que decidiram apresentar-se ao mundo enquanto poetas . Olho para eles, para a gravidade com que trazem a poesia na fronte ferida, lacerada, por uma linguagem-torniquete e bebo deles como se matasse a sede numa fonte de água fresca. É preciso coragem para querer viver assim, sabendo que a poesia começa por não perdoar aos poetas a ousadia. Antes de ser poema o poema é poesia.
Quanto menos tempo tenho para as palavras, mais me transformo em poesia. Se eu ainda tivesse ilusões, que não tenho, a maior de todas seria esta: fazer de mim mesmo um poema.
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3 comentários:
Tu, quando escreves assim, és poema pá. Azar teu, essa tua condição, essa pele.
Bem, já há muito tempo que nao encontrava um texto na blogosfera que me desse vontade de ler varias vezes. Sou seguidora!!
Gostei muito, está cheio de verdades que dão que pensar.
O meu blog:
http://equandoanoitece.blogspot.com/
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