segunda-feira, maio 12, 2014

Género isto, tás a ver?

Ela já tinha sido uma predadora, disse-lhe. Todas as quintas-feiras, como se fosse domingo, vestia-se a preceito, da alma aos pés, não para orar, para caçar. Quando ele a ouviu pela primeira vez falar disto já a amava e por isso não podia voltar atrás, simular o clássico, "desculpe é engano!" e pirar-se à procura do cheiro das mulheres púberes que procurava todas as noites no dancing. Das mulheres em flor ou das mulheres que se disfarçavam de mulheres púberes porque sabiam que ele procurava desesperadamente uma ilusão que não o obrigasse a confrontar-se com a sua angústia de macho. Ficou por isso apenas a olhar a sua pila a minguar, esperando que o medo lhe passasse um dia. Olhava as gajas predadoras como mirava as concubinas, de soslaio, imaginando fantasias eróticas de preferência com contorcionismo erótico-pornográfico. Ele não era um predador, nunca fora. Na discoteca distanciava-se dos outros predadores que olhavam para as mulheres como se elas fossem um saco indistinto de mamas, rabos, coxas e bocas deglutindo falos. "-Tu tens é mania que és diferente", diziam-lhe. E tinha. Tinha a mania de era um gajo sensível, delicado. Ele não era um predador. Era um gajo. Apenas um gajo. E os gajos gostam de f.. Se os gajos não gostassem de f. não eram gajos, desculpava-se perante a testosterona proeminente. Eram outra coisa. Homens com mamas, mulheres com barba, sabia lá. Só anos mais tarde, muitas mulheres depois, media o tempo da sua vida pelas mulheres que já se tinham deixado cativar por ele,- nem que fosse pelo instante do sopro - e não era por colecionismo, era porque era o único tempo em que ele tinha a sensação de ter existido fora do cordão que o ligava à mãe primeva, só muitas mulheres mais tarde é que se apercebeu que ela não era nem nunca tinha sido uma predadora. Apenas uma mulher que como ele também gostava e precisava de f. . Por mais que nos choquem as imagens exteriores, são as interiores, são as imagens interiores o último reduto da nossa concepção miserabilista do gênero.

2 comentários:

José María Souza Costa disse...

Olá.

Por aqui deixo os meus sentimentos de Amizade.
Interessante o seu blogue. Entendi que deveria segui-lo, estou fazendo, e lhe convidando a visitar o meu.
Te espero por lá
Abraço

Luís Graça disse...

O teu e-mail do clix veio para trás.

Fica aqui um abraço de parabéns.