domingo, junho 29, 2003

respirar o mesmo ar...

disseste: as palavras não são essenciais. e eu: não há nada de essencial nas palavras. há palavras. nada mais. e tu: foi isso que eu disse. tornei: eu estava a falar do que tu não disseste. e tu, trancando a porta à chave, reforçada com aquele cadeado de fantasia que compraste na loja dos trezentos: eu sei. tu estás sempre a falar do que eu não digo, do que eu não disse. nem eu nem tu: respirar o mesmo ar é a única evidência que conseguimos partilhar, nós, que de nós próprios somos contemporâneos. meninos de coro, putos loiros com trampa seca na face, cabrões, filhos da mãe, arrivistas, os eleitos, os deserdados, arca de noé do absurdo, disparada à velocidade de um cometa em direcção a um eclipse que virá quando o ar se cansar de alimentar este sopro.

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