sexta-feira, julho 18, 2003
Abelaira, via Blog de Esquerda que fez um link para uma última entrevista que vale a pena ler:
"Esse interesse de escrever e de ter algum eco, hoje já não me estimula. Escreve-se para quem? Escreve-se para o próprio, escreve-se para a namorada, escreve-se para um público abstracto? É um problema interessante. No fim de contas a escrita literária é um diálogo com alguém, não é um monólogo. Dostoievsky, para quem escreveu? (.../...)O indivíduo provavelmente escreve para ver através da escrita se descobre alguma coisa que ele não sabe... (.../...) O que me tem acontecido é que quando eu percebo, num dado momento, na página duzentos e tal, que não encontrei aquilo que procurava, que qualquer coisa me escapou, nessa altura termino o livro, seguindo para outro método, um outro caminho. Depois, nesse livro acontece-me exactamente a mesma coisa: aquilo que queria dizer mas que não sei o que é que queria dizer . Mas se não cheguei lá escrevo "Fim" e vou ... e vou escrever outro livro seguindo outro método. Em princípio, no dia em que eu chegar lá... "Ai, era isto! Descobri!" - nesse dia nunca mais escreveria, naturalmente. É preciso o aguilhão de querer descobrir qualquer coisa que não se sabe. "
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