sexta-feira, julho 18, 2003
E, mais uma vez, o filho mais velho provou ser o ‘sage’ que me fazia falta na vida.
Em Guerra e Pas , onde fui, confesso, depois da referência do Abrupto, encontrei este texto. Que me lembra outro. Mas a lá iremos. Depois.
"Ontem o nosso filho mais velho informou-nos que não queria ir para o céu. Não que prefira o Inferno, mas pura e simplesmente não quer morrer. Como as crianças deliram quando os seus pais resolvem os seus problemas, optei, numa decisão que demorou um décimo de segundo a tomar, por discorrer sobre o tempo, dizendo-lhe que faltava muito tempo para ele ir para o céu. Fi-lo repetindo a palavra “muito”, muitas vezes.
A conversa tinha começado na véspera, quando ele me perguntou quando é que eu iria morrer. Eu e a mãe. Tendo 3,7 anos, o jovem é esperto que nem um alho. Eu sabia que estava implícito na pergunta dele que ele não queria uma resposta do tipo ‘o pai não vai morrer’. Ele queria a verdade, o que me causou um problema, porque eu não sei quando é que me fino. Optei pela perspectiva conservadora e disse-lhe que quando eu tivesse barbas brancas e muitos netinhos aí sim, aí iria para o céu. Na cabeça das crianças o mundo vai-se compondo muito depressa. A sua pergunta seguinte foi, com muita lógica, como é que se vai para o céu. As ‘asinhas’ não me pareceram uma resposta cordata ou sequer satisfatória e dissertei então sobre o facto de enquanto falarmos das pessoas elas continuarem connosco. E falei do meu pai – que o meu filho nunca conheceu – que morreu fez ontem 11 anos, dizendo ao meu filho que a prova que ele estava connosco era o facto de estarmos a falar dele naquele momento, mesmo depois de ele estar no céu. E, mais uma vez, o filho mais velho provou ser o ‘sage’ que me fazia falta na vida. De facto, o meu pai continua vivo."
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