segunda-feira, julho 28, 2003
a internacionalização do teatro...
venho com o Teatro Mínimo do FIAR, em Palmela.
falamos do convite para "Oé, Oé, Oé" se deslocar ao festival de Teatro do Mindelo, em Cabo Verde.
um mal estar evidente. O Festival não tem dinheiro para as viagens da Companhia. E a Companhia também já recebeu todas as negas que é possível obter. Todas ou quase todas, porque provavelmente ainda é possível requisitar os bons ofícios de algum amanuense de algum oficial instituto ou serviço para carimbar as três letrinhas da palavra "NÃO", conforme a conjugação que calhar: não há verbas; não há ideias; não há conhecimento. Não há oportunidade. Qualquer coisa se há-de arranjar. A arte dos amanuenses é essa.
[É por isso que muitos de nós preferem o silêncio oficial. É dificil respirar o mesmo ar quando a incompetência e a incapacidade atávica dos nossos primeiros oficiais se juntam para tocar concertina e dançar o solidó.]
E o grupo são apenas três actores e dois técnicos. Cento e sessenta contos cada viagem. Oitocentos contos. Faz-se as contas para sacrificar um técnico. É a filosofia mínima. Que, para falar verdade, nem é propriedade do Mínimo. Ficam a faltar seiscentos e quarenta contos. "E se tirássemos o outro técnico? Eles lá não arranjam um? ", sugiro. Os meus companheiros do Teatro Mínimo olham-me como se de repente dessem conta que têm andado a "dormir com o inimigo" . Mandavam o plano de luzes e som antecipadamente, talvez arranjassem um técnico...Assim só faltavam quatrocentos e oitenta contos...".
Ainda arranjo coragem para propôr soluções ainda mais draconianas. Que mandem o texto e que os organizadores tentem arranjar três actores no Mindelo. Ou que mandassem uma gravação. "Oé, Oé, Oé" em versão radiofónica. Era bom para todos. O Festival ficava todo contente por ter uma Companhia de Teatro Profissional de Portugal no seu programa. Portugal também daria graças por ter uma sua Companhia de Teatro a representá-la. E a Companhia propriamente dita, podia justamente colocar no seu curriculum mais uma internacionalização, o que dá sempre jeito.
Felizmente de Palmela a Lisboa é um pulinho. Mal acabo de dizer isto ouço um arrastar violento dos travões de um carro. Primeiro, apercebo-me que é o carro do José Boavida. Depois que é aquele em que também estou. José Boavida sai, abre a porta do carro do meu lado e começa a fazer aquelas caretas que lhe ensinaram a fazer nos Malucos do Riso. O Pedro Alpiarça ri-se, mais lúcido e satisfeito, está vingado. Coitado do Vicente Morais. Olha-me com cara grave, ele leva isto muito a peito. Ainda me quer emprestar um casaco, mas eu orgulhoso, não aceito. Tiro um cigarro, e enquanto me faço à Ponte Vasco da Gama começo logo ali a alinhavar um post sobre a internacionalização do nosso teatro.
[ não sei porquê, se do frio, se do vento, se do facto de estar na ponte de um dos nossos maiores icones das descobertas, ou talvez tão somente porque "Oé, Oé, Oé", na versão portuguesa que deste texto realizou o Teatro Mínimo relata as aventuras de três afficionados da nossa selecção que vão a Sevilha, lembro-me da grande representação par(a)lamentar que esteve nesta cidade espanhola. E fico contente, ainda há esperança. .]
Então cá vai finalmente o post sobre a internacionalização do nosso teatro:
O problema da internacionalização do nosso teatro não tem a ver com a internacionalização. É mesmo só um problema do nosso teatro.
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