quarta-feira, julho 09, 2003
No outro dia em [Campo de Afectos] ao ler o excerto da entrevista de Teresa Coelho a Rui Nunes que CAM destacou, lembrei-me de Arno Gruen e de "A Loucura da Normalidade", editado pela Assírio.
"para aqueles que se apropriam da aparência de um comportamento "normal", porque não conseguem suportar a tensão das contradições entre a realidade que nos é imposta e o mundo interior, para gente assim, muito rapidamente deixa de haver sentimentos verdadeiros. Em vez disso, operam com conceitos de sentimentos, sem terem com eles alguma experiência. Apresentam sentimentos fingidos e renunciam aos seus sentimentos verdadeiros. Quanto mais "saudável" a imagem da identidade que assumiram, tanto maior será o sucesso dessa manipulação. E é de manipulação que se trata, já que a sua intenção não é exprimirem-se, mas a de convencer o parceiro de que agem, pensam e sentem de uma forma adequada. São estas as pessoas que quero apresentar como realmente loucas entre nós.
Poêm-nos a todos em perigo, porque são incapazes de encarar de frente o caos, a raiva e o vazio que os preenchem. Ao passo que o esquizofrénico mantém de pé, num mundo sentido por ele como contraditório e inquietantemente mau, a convicção básica de que o amor verdadeiro tem validade, naqueles que iludem a loucura, a luta pelo poder é a única maneira de se defenderem do caos interior que os assola e da destruição interior. Para não terem de reconhecer o vazio como o seu próprio vazio interior, espalham a destruição e o vazio à sua volta. O paradoxo do esquizofrénico é que tenta protejer o seu interior escondendo-o. Operação essa votada ao fracasso, porque o Eu só pode viver no intercâmbio vivo, e, por isso, o esquizofrénico paga essa tentativa muitas vezes com a perda total de bom senso, lógica e comunicação. Ele faz a si próprio o que o mundo lhe fez. Já não quer ser amável para impedir as outras pessoas de se sentirem culpadas pelo seu estado. Aqueles, no entanto, que querem fugir à consciência do seu estado interior, impõem "a sua ordem" aos outros, e com isso a sua maneira de se relacionarem consigo próprios."
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