terça-feira, julho 22, 2003

Sociológicamente o importante é...

[Para quem ainda não percebeu estou a acabar uma conversa com um post do SocioBlogue] "As questões sociológicas fundamentais estão, em primeiro lugar, em compreender porque é que o caso de Paulo Pedroso provoca tantas discussões em torno dos «problemas processuais». E, em segundo lugar, em perceber como é que problemas que eram anteriormente desvalorizados, secundarizados e negligenciados são agora classificados como essenciais e incontornáveis." 1. A pergunta é bem mais terrí­vel se a deslocarmos, pelo avesso da questão, do plano sociológico para o plano da nossa mundivivência. Até porque a sua formulação no plano sociológico, tem implicito, eu ouço-o, uma voz de relativização (é essa a função da ciência, não nos espantemos com isso) que se pode articular facilmente com a atitude com que o senso comum gosta de tratar todas os pensamentos: a desautorização. Porque, no vaivém entre o anúncio do problema e a sua resolução no campo científico, o que fica - a ciência não suspende o mundo e a nossa necessidade de continuarmos a existir com respostas, por mais atabalhoadas que sejam - é chão para a entrada galopante daquele dedo em riste que o pensamento portuga estica tão bem: " - Como é que podes dizer isso tu, tu que nunca ergueste a voz contra...." 2. Disse, o terrí­vel é o avesso dessa questão, aplicada na nossa vida de todos os dias. É a constatação da fragilidade máxima dos sistemas complexos em que vivemos. E faz muito bem o SocioBlogue em trazê-la, e fazemos melhor todos nós, em tentar alargá-la aos limites da nossa prática de vida. Como hoje, quando se consensualiza que, independentemente da oportunidade, mais tarde ou mais cedo, o sistema das escutas tem de ser revisto. O sistema da prisão preventiva. Etc, etc. Porque o problema não é unicamente se só agora, porque em causa própria, os politicos percebem os contornos das leis que fizeram. O problema é que temos sistemas que governam todos os nossos dias, na saúde, na justiça, na segurança, a quem atribuimos uma inteligência e uma capacidade de perceber os limites da realidade que regulam, que afinal não têm. E porque é que não têm ? E como poderemos começar a percorrer o trilho para que tenham? Essas, independentemente da indiscutível pertinência das questões sociológicas, é que me parecem, enquanto cidadão, mais importantes. Mais sem resposta. Mais terrí­veis nesta noite do pensamento desaparecente.

Sem comentários: