segunda-feira, agosto 11, 2003

Miragem

Tropeço nesta palavra. Não sei se foi por ontem termos falado em desertos. Decerto algum daqueles acontecimentos que só explicam alguma coisa enquanto se mantém no domínio do inexplicável. Dou por mim a soletrar a palavra. A descobrir-lhe um conflito. Mira-agem. Tensão entre mirar e agir. Como se ela, a miragem, resultasse numa acção exercida sobre o olhar. Por quem? Corro o eixo paradigmático do meu dicionário de sinónimos do word. Ilusão, alucinação, cegueira, decepção, delírio, engano equívoco, erro, falácia, fantasia, fantasma. Não fico satisfeito, insulto o meu pc, é um moralista empedernido. No dicionário da Porto Editora algo se releva sobre a ressonância da palavra: do latim mirare, mirari. Olhar com admiração. Estou mais próximo, sinto-o. Entretanto o texto abriu outras direcções. Avançar pelo dicionário em busca de uma palavra não me impediu de sentir o peso daquele banco de palavras. Quanto tempo para fixá-las, domesticá-las. Ocorre-me Miguel Angel Astúrias, que dizia ler matinalmente as páginas do dicionário, refrescando-se na torrente. Abrevio, este não é um texto, é um pretexto. Miragem. Uma aragem que corre no olhar. Estamos no deserto. [Miragem:efeito de refracção e reflexão total que, nos desertos, faz aparecer, dando a ilusão de próxima, a imagem invertida de lugares distantes como que reflectidos na água. (fig) ilusão, decepção. Mirar: do latim mirare,mirari - admirar, olhar com admiração]

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