quarta-feira, agosto 06, 2003
outra guerra, outra paz...
O Outro, Eu explica hoje, não o seu "eriçamento", como talvez pretendesse Guerra e Paz mas a sua frontalidade em relação ao modo como está na blogosfera:
"Entendo este espaço, a que chamam blogosfera, como um território de partilha. Gosto da permanente troca de ideias e opiniões, do debate - por vezes, vigoroso - sobre aquilo que nos separa (nos pontos de vista) e que (pela discussão) tantas vezes acaba por nos unir em termos humanos. É nesse espírito que aqui estou. Dito isto, acrescentarei que não peço autorização a ninguém para discordar. "
[ são dizeres destes que legitimam um pouco o tempo que aqui passamos, principalmente quando temos fios de linha a prenderem-nos ao de lá da blogosfera, um de lá que tem uma ideia caricatural da forma como aqui existimos. É verdade. Esta possibilidade da discórdia não ser um distanciamento, mas uma aproximação, não tem nada de paradoxal. O paradoxo humano não é isso. É o estarmos sempre além ou aquém, o nunca sermos este mas um Outro, Não-Eu.]
Mas também diz o Outro, Eu, que discordou perante "uma frase, que me pareceu infeliz, lida no Guerra e Pas." Talvez para CVM isto seja o comum, a conta corrente dos seus dias. Mas eu não posso deixar de achar isto sublime. Como se sentisse o rasto do gesto a iluminar o vazio. Alguém que se levanta, pega numa caneta e escreve. Porque discordou de uma frase. Uma só frase. E tantas frases que o mundo tem. E não é que o Outro, Eu, seja um opinador incontinente, descontrolado. Quem passear pelo seu blogue sente-lhe a emotividade da alma mas também lhe pressente a frase contida, o pensamento conciso. Senti-me minorca. Tantas frases que eu deixo sem resposta. Aliás, só sou mesmo capaz de acordar para o responso quando a reiteração da frase atinge um nível insuportável de ruído. E não é aqui. É na vida. Por isso também fiz minha a frase de Pedro Tamen de que CVM no outro dia se apoderou: " Os meus heróis são os que conseguem resistir ao ódio, mas não á indignação".
[Sinto-me anão e isso não me incomoda nada, neste momento. Porque este apequenar-me resulta de uma medida de grandeza que reconheci e que, nem que seja por breves momentos, fiz minha. O reconhecimento é uma forma de nos apoderarmos do mundo. Logo mais CVM voltará ao seu tamanho natural e eu recuperarei também o meu percentil de ave canora sem voz que me doa. Mas fica este instante de luz. De reconhecimento.]
Reconhecimento que não se extingue no Outro, Eu. Vou a Guerra e Paz, onde vou sempre sem sapatos nem pedras, embora, confesse, por isso mesmo, onde poucas vezes vou, e apercebo-me que há pessoas assim, que mostram mais facilmente a sua grandeza quando encostadas à parede:
"Tens razão LM. A minha sanha para com esta inevitabilidade que são os incêndios e as pessoas, como figuras de papel, a esvoaçarem nas cinzas, faz-me muitas vezes omitir a natureza da natureza humana. De facto, todos vão começar outra vez, mesmo que o lenço fique encharcado por muitas mais luas."
[ Como no pavilhão dos espelhos da feira popular, volto a sentir-me pequenino outra vez. O reconhecimento desta omissão não é trabalho discipiendo do eu. Principalmente quando estamos diante um "eu" que chega a admitir, com mal estar, uma pretensa "superioridade". É que não há "eu" nem "outro", em lugar nenhum, pelo menos no nosso mundo, que possa almejar um milimetro sequer de grandeza quando algo lhe oculta no Homem, o humano. Volto a PBM ; "só quando escrevemos sobre o que nos é maldito em nós mesmos, é que somos verdadeiros" .]
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