segunda-feira, agosto 11, 2003

A praça vive

A praça vive Corre aquele vento que nos atira de manso sobre o dorso do paquiderme que construímos na areia molhada. O pó lidera os pequenos gestos que nos perseguem. É o viver que nos incomoda. O arrotar, o tirar à vez, o visitar do zombi que sacode, quando a praça revive o nosso tosco idílio de gente revirada do avesso. O cão-poema ladra aos tornozelos das moças que atravancam a linha do horizonte. Poesia descendo do infindo, antecedendo-o, na leve ironia de mundo que aqui há. É diante do poema evaporado que a praça acorda e reacende a poesia do retorno. Tal como o cão, o poema tem o vício de ranger entre dentes. O calor da tarde supera tudo, o cão, a esplanada, o puto, o movimento e o menor povoléu. Houvesse um rasgo de amor para acender este lume de agosto. [Nem que fosse o fóssil que aquela criança roubou ao livro da terra antes de guardar um sopapo por se ter entranhado com o pó.] Não há. Até o fóssil ri de tal estio, é secante o traçado das águas, o poema-pau de fósforo apaga-se na correnteza. [Subúrbios, 1995]

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