quarta-feira, setembro 10, 2003
Voltar à casa-mãe ...
Ensaio dos Dois Corcundinhas, texto de José Boavida assumido em guião para a estreia do Teatro Mínimo no universo do teatro para a infância e a juventude. No palco da Guilhas, Elisabete Piecho, Vicente Morais e Pedro Alpiarça fazem exercícios de trapézio na rede montada pelo Boavida. Na plateia eu e o Delfim Miranda. Este desafio de ser dramaturgo residente por vezes parece uma coroa de espinhos sem redenção à vista. Não é um texto meu. Não há tempo para um trabalho de mesa como me seria mais cómodo. Onde e como intervir para alargar o espaço sensível daquilo que começa a forjar-se à minha frente? Também eu já me dei nas tábuas e sei que há uma fase, esta, onde a fragilidade do trabalho não suporta o material opinativo. Agora há que avançar, no escuro que é o chão do palco, as paredes, a intuição cénica dos actores.
[Eu próprio estou diante de uma experiência nova. Sinto-me com alguma capacidade de fazer travejar o palco de uma discussão dramatúrgica, no sentido que lhe encontrei nas aprendizagens que fui tendo, com a Águeda Sena, com o António Mercado, com a minha própria prática, a construção de "É para os Putos que Querem Comer a Sopa!" a partir de um guião foi também um momento decisivo, mas não sei ainda como intervir neste processo.]
Quão bem me soube este regresso à casa-mãe. Vazio, a preencher. O teatro. Se não fosse obsceno diria a mim próprio que todo o mundo poderia morrer desde que morresse no teatro. E o que faria o teatro sem mundos que o fizessem? Nada. Tornar-se-ía na longa caixa em que se suicidou o mundo. O espectador suicida dos mundos que o consomem. Mania das grandezas, haverias tu de responder. Para quê uma caixa tão grande se aquela pequenina (que fica tão bem naquele canto da sala) já faz isso tão bem?
Daí a obscenidade, responderia eu se isto alguma vez deixasse de ter sido um solilóquio.
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