sexta-feira, outubro 10, 2003

A minha avó Joana Rosa...

que era uma mulher doce, bonita e sensível e que nem tinha televisão na sua casa de Elvas, depois da trombose, não perdia um episódio da "Escrava Isaura". Sentada naquele cadeirão de madeira da nossa sala, espreitava o "malandro", o "mau" do esclavagista Leôncio, salpicando avisos para a sua desditosa Isaura. Na altura eu brincava com esta sua intrusão na ficção ( parecia que estava diante do reverso daquele artíficio da comédia teatral, o "aparte" do actor para o público). Dou-me conta que eu também faço um pouco o mesmo, mas no mundo, hoje também telenovelesco, da política. Ouço Paulo Pedroso, com cuja libertação exulto, e enquanto ele fala, começo a mexer os lábios, tartamudeando um discurso imaginário: "Para mim, que me fui formando na convicção de que a política é um servir sem limites, só posso interpretar esta minha libertação, mais do que uma mera reposição da justiça e da legalidade, como um apelo para que, por todos os meios ao meu alcance, inscreva a luta contra o abuso da prisão preventiva numa das prioridades do meu combate político. Não tenham a menor das ilusões: continuarei em cativeiro até que esta ideia, que agora, como uma obsessão, me traz cativo, vencendo, me liberte.". Pedimos tanto a quem ama, pedimos o amor, escreveu o poeta.

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