segunda-feira, dezembro 22, 2003
Amabilidade
"O ressentimento apoderou-se da blogosfera nos últimos tempos sob a máscara do debate. Não, não é que deva existir um debate «frouxo», inócuo — falo dos termos do debate .../...Evidentemente que o «ressentimento» é outra coisa, uma espécie de marca da cultura oficial contemporânea. Por exemplo: todo o texto que nos é estranho passa por ser a manifestação de um pecado original; os outros transportam sempre um vírus."
Não por ser Natal. Nem por ser uma forma de citar FJV. Apenas porque os custos da interioridade não se reflectem apenas na geografia dos mundos onde vivemos. Eles são em primeiro lugar, traços a grosso na anatomia dos mundos onde, depois, iremos viver. E assim, este trabalho de cada um sobre si e sobre o seu semelhante, o outro, ele, este trabalho de uma descoberta da generosidade, da dádiva, tenha isso um cariz religioso, político, ético, é a única coisa que me apetece festejar no ser humano.
Descrente que estou na sua humanidade. Ou melhor, descrente da evidência desta no homem. A humanidade do homem não é uma condição, é um projecto. Não sou capaz de odiar mas se o pudesse, se alguma vez conseguisse dedilhar um ódio tão cristalino como a face do mais puro amor, o meu desprezo iria inteirinho para a arrogância. Seja qual a forma, o feitio ou o corpete. Vestida pelo augustus ou andrajosa e trapeira. Mas sempre mãe desse terrível ressentimento que nos diminui e encarquilha a alma. É preciso ser muita auto suficiência afectiva para, entre os demais, se poder prescindir desse mínimo modo de ser amoroso que é a amabilidade. Eu sei, isto também é de uma enorme crueldade . Tal como nos desafinados, no coração dos ressentidos também toca um samba. E feitas as contas, o amor e o ódio são partes desta trifásica que nos liga. Que liga.
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