quarta-feira, janeiro 21, 2004
Cinco anos
A Sofia escreveu um texto longo, comovente. A Inês tem agora uma mão inteira, dedo a dedo. Eu sei, eu liquefaço-me com alguma facilidade, terei também assim o coração piegas. Principalmente agora que vivo o maior desafio da minha vida: como reiterar a minha presença, nesta ausência. Desafio tranquilo, a meias. Aliás, a trio; o petiz, a perdiz, também, percebendo alguma coisa pelos espaços em branco, ajuda.
A propósito: não estou a falar do meu caso mas às vezes magoa-me a minha masculinidade. Quando penso que nesta nossa sociedade de machos sempre nos castrámos voluntariamente de um dos maiores privilégios da vida (crescer.com ). E que essa tradição se refecte em todo o edíficio que estabelece como natural a vinculação da mãe à cria, independentemente do estádio de desenvolvimento desta. E a desvinculação natural do pai. Não estou a falar do meu caso, não só porque não estou, nesse domínio saíu-me o treze no totobola, também porque nunca me atreveria a falar dele aqui. Estou apenas a tentar perceber-me nesta ideia muito simples: a nossa sociedade será tanto mais justa para os seus homens e para as suas mulheres quanto for mais justa a sua ideia de homem e de mulher.
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