sexta-feira, janeiro 09, 2004

Uma graça nunca vem só...

Amo também as manhãs. As manhãs como esta em que um homem sente que se pode apaixonar por uma casa. Quer desça a Calçada do Monte em direcção à Rua do Bem Formoso, quer se atire ao Martim Moniz pela Calçada da Graça, em direcção à Rua de São Tomé. Precorro os olhos à procura dos telhados, das águas furtadas, das vistas para o rio. Imagino-me lá, naqueles lugares onde roça o meu olhar, aqui, é aqui que eu quero amar e pertencer a esta cidade. Irei talvez saltitar de ponto em ponto, o amor não é uma questão de perspectiva, a paixão sim, o amor não, o amor entesa-se e enrija-se com a perspectiva, aliás, o amor é cego, entesa-se e enrija-se com tudo. Amo também as manhãs. As manhãs em que a arquitectura se anuncia meio carne, meio argila. Não uma combustão nem uma fusão. É uma comunhão. Ardem em mim os caboucos desta casa que ainda não existe mas que, existirá. Lembro-me da Pilar, de um eterno paraíso, "na minha vida as pessoas são como casas e as casas assemelham-se a pessoas". Estou no Martim Moniz.

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