domingo, fevereiro 29, 2004

Pêndulo.

É entre cá e lá que me entendo. Ontem passei a noite numa casa vazia. Vazia não. Desnuda. Um saco cama e dois cds de Jorge Palma enchem uma casa. Como tu dizias, Jorge Palma será sempre a voz de um viver urbano que sabe cantar como ninguém. Porque não cantou apenas os bairros, mas os estados de alma de gente à beira do desmoronamento, fazendo das fraquezas forças, da fragilidade encanto. Sedução. E o que mais impressiona é que com Jorge Palma, a canção torna-se política como poucas vezes o terá sido. O poeta da instabilidade, da sofreguidão, do comprimido e da bebedeira, do charro e da tripe, é também o desalinhado lúcido de ai, portugal, portugal, tens um pé numa galera, o outro no fundo do mar.

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