Tratar da Política III

1. Não consigo esconder a minha alegria pela vitória do PSOE nas eleições em Espanha. É preciso um pouco mais para que a minha alegria seja também alguma felicidade, mas Espanha do lado da mentira, da usurpação, desiquilibra. A partir de hoje há um lugar em branco na foto da "Cimeira dos Azores". E sendo assim - por mais que a aliança anglo-americana seja visceral e se sobreponha a questões de natureza ideológica- o próprio lugar de Tony Blair nessa foto poderá estar também a esbater-se. É claro que Mr. Bush nem dará pela diferença, contará ainda com o zé manel -haverá alguma maldição em um tipo hoje, em Portugal, chamar-se zé manel? - a seu lado de olhos esbugalhados, importante como só ele sabe ser, mas para nós, os que vivemos neste mundo, a questão é de relevante importância geo-estratégica. 2. E quando eu digo que não consigo esconder a minha alegria, deixo em aberto a ideia de que poderá haver alguma razão que torne esta alegria algo menos evidente, menos clara. E assim, é. 3. Mais uma vez o que releva mais desta disputa eleitoral é que alguém perdeu, mais do que alguém ganhou. Não que a vitória do PSOE careça de alguma legitimidade política. Nada disso. O que não tem é aquela seiva de onde frutifique uma ideia de política que possa ser multi resistente face à morte anunciada da política. Ou seja, o que se ouviu em Espanha não foi o troar apoteótico de uma ideia de política que nos devolva a todos à importância da política. Foi o desmoronar de uma mentira, servida tantas vezes como verdade que traiu os seus próprios artífices, como aconteceu com Ana Palácio ao enviar para todas as embaixadas aquela directiva impondo a conexão do atentado com a ETA . 4. Este é um bom momento de reflexão. Reflexão na qual os socialistas portugueses devem ter um papel criativo e inovador. É preciso dizer que este esperar que a maçã apodreça no ramo poderá ter toda a eficácia política doméstica, mas é um mimetismo descarado do "vale tudo" que levou a coligação do PSD/PP ao poder.