sexta-feira, abril 16, 2004

25.4 de 74/ 25.4 04. Trinta anos de Quê? - V

Dos meus breves tempos da UEC uma das recordações mais prazenteiras são as conversas que eu e o Rui tinhamos enquanto vinhamos de do Liceu, em Chelas. Tinhamos doze, treze anos. Um dia discutíamos a ameaça americana, o perigo de uma invasão e ocupação americana. A perda da identidade nacional. O campo aberto que isso seria ao reviralho fascista. Era o linguarejar da época. Tinhamos na referência os filmes de Costa Gravas. Eram esses os nossos fantasmas. Falávamos da Esquadra da NATO presente no estuário do Tejo ( não sei se foi por alturas do célebre comício do Pinheiro de Azevedo no Terreiro do Paço). O Rui sossega-me: "- Em Portugal nós resistíamos. - Mas como? Somos tão pequeninos. - A União Soviética ajudava-nos. - Tens a certeza? - Absoluta. Eles íam ajudar o povo a enfrentar os americanos. Eles são uma super potência.." E lá fui eu nesse dia mais sossegado para casa. Os americanos podiam vir, nós dávamos conta do recado. Já imaginava um exército de forquilhas, de pás, de enxadas, uma daquelas multidões saídas das pinturas murais do MRPP. E, na retuaguarda, os soviéticos. O mundo naquela altura era tão à nossa imagem e semelhança, com os bandos de beligerantes e rufias alinhados em torno de um ou outro líder. E era isto que fazia mover o relógio da sala.

Sem comentários: